Governo e autarcas da serra da Estrela avaliam esta segunda-feira prejuízos e apoios
Objetivo do encontro entre Governo e autarcas é "avaliar as necessidades e respostas integradas" para os municípios da Covilhã, Guarda, Manteigas, Celorico da Beira e Gouveia, na sequência do "maior incêndio florestal ocorrido este ano no país".
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O Governo reúne-se esta segunda-feira, em Manteigas, com os presidentes de câmara dos cinco concelhos mais afetados pelo incêndio da serra da Estrela, para avaliar os prejuízos causados e definir medidas de apoio.
Segundo informação do gabinete da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, o objetivo do encontro com os municípios da Covilhã (distrito de Castelo Branco), Guarda, Manteigas, Celorico da Beira e Gouveia (distrito da Guarda) é "avaliar as necessidades e respostas integradas para estes concelhos" na sequência do "maior incêndio florestal ocorrido este ano no país", incluindo "apoio às famílias, às empresas e à reabilitação das zonas afetadas", em pleno parque natural.
Pelo Governo, estarão presentes os ministros da Presidência, da Administração Interna, José Luís Carneiro, do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, e da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes.
O ministro da Administração Interna disse esta segunda-feira que os autarcas e os habitantes da serra da Estrela cujos municípios foram afetados pelo incêndio deste mês podem esperar "solidariedade total" do Governo.
À chegada a Manteigas, no distrito da Guarda, para uma reunião entre vários membros do Governo e autarcas da região, o ministro José Luís Carneiro, questionado pelos jornalistas sobre o que os autarcas e as populações daquela área protegia podem esperar, respondeu com "solidariedade total".
"[Podem esperar] a nossa solidariedade total, da parte do Governo. Mas vamos agora ouvir os autarcas, porque acho que é muito importante ouvir quem está aqui e quem esteve aqui com as dificuldades e quem tem vivido as dificuldades", declarou.
O ministro disse que a responsabilidade do Governo "é de compreender essas dificuldades e de fazer tudo" o que for possível e estiver ao alcance para apoiar "aqueles que precisam de apoios".
José Luís Carneiro acrescentou que hoje é dia para "ouvir os autarcas" e depois "haverá um momento de decisão".
O governante também manifestou "consternação por aquilo que se passou" no incêndio da serra da Estrela e nos incêndios por todo o país.
A ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, também foi questionada pelos jornalistas à chegada à unidade hoteleira de Manteigas, onde começou a reunião, pelas 10h30.
"Agora vamos conversar sobre os impactos e o que poderemos fazer. Primeiro a reunião e depois falamos. (...) O objetivo primeiro é falar com os senhores presidentes de Câmara. No final da reunião estão previstas declarações e nós falaremos sem nenhum problema", declarou.
Já o presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Costa, referiu que os assuntos a tratar pelos autarcas no encontro são aqueles que foram divulgados "no final da semana".
"O que nós esperamos é que as nossas reivindicações sejam atendidas pelo Governo", rematou.
Após uma reunião conjunta, na quinta-feira, os municípios abrangidos pelo Parque Natural da Serra da Estrela exigiram que seja decretado "estado de calamidade" e apoios imediatos para colmatar prejuízos de "centenas de milhões de euros".
O incêndio na serra deflagrou no dia 06 de agosto na Covilhã e foi dado como dominado no dia 13, mas sofreu uma reativação dois dias depois. Foi considerado novamente dominado na noite de quarta-feira, dia 17, onze dias depois.
Devido ao seu impacto, com a destruição de cerca de 25 mil hectares, de acordo com dados preliminares avançados pelas autoridades, os autarcas dos concelhos atingidos exigiram a ativação do estado de calamidade, um apelo ainda sem resposta.
A Proteção Civil deu conta de que foi contabilizada a perda de duas casas e até às 12h00 de quinta-feira foram registados 24 feridos ligeiros e três graves, que entretanto já tiveram alta hospitalar. Houve ainda cerca de cinco dezenas de assistências médicas no terreno.
Na quinta-feira, a Estrelacoop -- Cooperativa de Produtores de Queijo da Serra da Estrela disse que "obrigatoriamente", vai ter de haver uma valorização do preço do leite das ovelhas bordaleiras, a principal raça ovina leiteira de Portugal, enquanto a Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Serra da Estrela (ANCOSE) referiu que foi identificada, até à data, a necessidade de apoio a 12 pastores dos concelhos de Gouveia e Celorico da Beira, no âmbito de um levantamento que decorre e que foi pedido pelo Ministério da Agricultura.
O presidente da ANCOSE, Manuel Marques, manifestou-se "muito preocupado" com as consequências no setor da pastorícia, alertando para a possibilidade de estar em risco a produção do queijo da região.
No âmbito da recuperação, a associação cultural Amigos da Serra da Estrela já veio dizer também que é urgente "identificar as zonas de elevado risco de erosão e danos físicos e materiais" e fazer barreiras com material lenhoso.
José Conde, biólogo do Centro de Interpretação da Serra da Estrela (estrutura da Câmara de Seia), considera que houve "um dano enorme da biodiversidade" desta zona classificada pela Unesco - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, com a perda de muitos e diversos habitats.
Segundo o especialista, ao nível da flora, as chamas afetaram, por exemplo, azinheiras, castanheiros, carvalhos ou caldoneiras (importante habitat para várias comunidades de insetos, répteis e aves)
Répteis como a víbora cornuda, o sardão, ou espécies de grilos e escaravelhos que apenas existem na serra da Estrela, assim como pequenos carnívoros como as fuinhas e as ginetas, terão sido afetados.
* Notícia atualizada às 12h10