Governo estuda concentração de urgências de obstetrícia em Almada. Autarcas pedem "medidas de fundo"
A medida pretende concentrar as urgências de obstetrícia no Hospital Garcia de Orta, em Almada, e evitar que a Margem Sul tenha as três urgências encerradas, como já aconteceu. A proposta está a ser analisada pela ministra da Saúde
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O Governo está a estudar a criação do Centro Materno-Infantil da Península de Setúbal, uma unidade que iria concentrar todos os serviços de obstetrícia e ginecologia da Margem Sul.
Segundo o jornal Expresso, a proposta prevê que sejam encerradas as urgências obstétricas da unidade de saúde do Barreiro, que continua, no entanto, a fazer o acompanhamento, exames e alguns partos programados, mas as urgências obstétricas ficariam concentradas no Hospital Garcia de Orta, em Almada. Fora do plano fica a unidade de saúde de Setúbal, que vai continuar a ter as próprias urgências de obstetrícia.
Os peritos, encarregues de redefinir a resposta pública em obstetrícia e ginecologia, justificam que a medida é uma forma de evitar os fechos simultâneos das três urgências obstétricas, como já tem acontecido.
Esta proposta não convence o presidente da Câmara do Barreiro. Em declarações à TSF, Frederico Rosa admite estar preocupado e pede "medidas de fundo" que resolvam o problema do SNS e não apenas soluções temporárias.
"Enquanto não houver medidas de fundo que tenham a ver com a capacidade de atrair e de reter de profissionais, vamos estar, de tempos a tempos, a falar na concentração de urgências, neste caso, as obstetrícias", explica à TSF Frederico Rosas, admitindo "muita preocupação que o hospital do Barreiro, que não serve só o Barreiro, serve Barreiro, Moita, Montijo e Alcochete, esteja com uma administração em gestão".
"Vejo com muita preocupação o facto de não se tomar medidas de fundo para resolver este problema ou para encontrar um caminho para resolver este problema", sublinha.
Frederico Rosa sublinha, no entanto, que é importante existir previsibilidade para os utentes saberem onde se devem dirigir em caso de urgência. Ainda assim, o autarca tem dúvidas de que a ideia de concentrar as urgências de obstetrícia em Almada possa avançar.
"A pior coisa que pode acontecer a alguém que se dirige a uma urgência é não saber para onde se dirigir. Às vezes é importante ter estas medidas, que consideramos de transição, até à medida de fundo, mas o tempo passa, só se fala destas pequenas medidas de transição e nunca se fala das medidas de fundo. Eu percebo que seja muito importante a previsibilidade, eu também tenho muitas dúvidas que esta questão de juntar todos os profissionais num sítio seja uma conta de somar, porque eu tenho muitas dúvidas que todos os profissionais queiram aderir", acrescenta.
"Vamos ter o mesmo número de médicos para o mesmo número de parturientes"
Também ouvida pela TSF, a autarca de Almada lamenta que os envolvidos nesta mudança não tenham sido ouvidos e insiste que "há um problema crónico e estrutural, no qual devíamos pensar seriamente, que é a falta de recursos humanos e a incapacidade que o Serviço Nacional de Saúde tem de reter profissionais".
Inês de Medeiros alerta ainda que esta concentração de urgências não altera o número de médicos, nem o número de utentes: "Não basta juntar dois serviços para achar que vamos ter mais médicos. Vamos ter o mesmo número de médicos para o mesmo número de parturientes."
A proposta foi apresentada à ministra da Saúde pelo presidente da Comissão Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, Caldas Afonso, com base no plano que já estava a ser traçado pelo primeiro diretor-executivo do Serviço Nacional de Saúde, Fernando Araújo.
O semanário avança também que, a acompanhar estas mudanças, vão ser nomeadas novas administrações para os dois hospitais.
Notícia atualizada às 10h32