"Governo não quis saber dos trabalhadores." Dos hospitais às escolas, greve encerra vários serviços públicos em todo o país
Corpo do artigo
Consultas externas e cirurgias programadas são as áreas que, no setor da saúde, estão a ser mais afetadas pela greve da função pública. De Lisboa ao Algarve, passando pelo Porto, esta é uma paralisação que abrange também a educação, o fisco e os notários.
Este é um protesto nacional, que inclui todos os trabalhadores, independentemente do vínculo e da carreira. Na educação, estão abrangidos assistentes operacionais, técnicos auxiliares, assistentes técnicos e professores. Já na saúde podem aderir à greve os médicos, enfermeiros, técnicos auxiliares e assistentes operacionais.
A expectativa dos sindicatos está confirmada: a educação e a saúde estão a ser os setores mais afetados por esta paralisação. Os trabalhadores querem salários mais elevados e melhores condições de trabalho. Ouvido pela TSF, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Serviços e Entidades com Fins Públicos, Mário Rui, adianta que a nível nacional, a adesão ultrapassa os 60%.
“Segundo as informações que temos neste momento, há uma adesão à greve já bem acima dos 60%. Muitas escolas fechadas, a educação está a ser bastante afetada e a saúde também. Estamos neste momento ainda a apurar alguns números por causa das mudanças de turno”, disse.
No Hospital de Santa Maria, em Lisboa, será um dia difícil, com muitas cirurgias programadas e consultas externas canceladas. Em declarações à TSF, Diogo Mina, membro do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Serviços e Entidades com Fins Públicos, adiantou os primeiros dados relativos à adesão nos hospitais.
“De madrugada, cumprimos os serviços mínimos, temos uma adesão de 90% nos blocos operatórios de cirurgia programada e nas consultas externas, principalmente. Há algumas dificuldades no serviço de urgência, que vão estar com um nível baixo de trabalhadores”, explicou à TSF Diogo Mina, revelando aquilo que estão em causa.
“O Governo não quis saber dos trabalhadores. A carreira de técnico auxiliar de saúde, que é uma carreira especial que passou a 22/12/2023 e temos hospitais que ainda não passaram os seus trabalhadores. Pedimos várias reuniões com algumas administrações, até hoje resposta zero. Também o subsídio de risco, muitas outras coisas e contratos coletivos para atualizar que as administrações não querem saber”, sublinha, acrescentando que a escolha do último dia de campanha eleitoral para a realização desta greve não foi inocente.
Foi bem programada e bem estudada para ter mais impacto.
Também no Hospital de Faro, no Algarve, a greve “tem uma grande adesão”. Pelo que a TSF teve oportunidade de verificar no local, os funcionários não abriram os guichés das consultas externas, pelo que as pessoas não conseguiram inscrever-se para essas mesmas consultas. À TSF, a funcionária da portaria afirmou que “o pouco movimento” que se fazia sentir às 08h00 desta sexta-feira fazia lembrar “um sábado ou um domingo”.
Dina Pereira, uma utente que veio de Tavira, explicou à TSF que tinha agendada, “há cerca de seis meses”, uma consulta da dor crónica que tinha sido “pedida com máxima urgência”. “Penso que vou ter a consulta, mas não vejo ninguém a passar para as consultas, vamos ver”, referiu, sublinhando que “ainda não conseguiu inscrever-se".
Da saúde à educação. A Escola Básica 2/3 de Santo António, em Faro, está encerrada. À porta, está afixado um papel onde se lê: “Avisam-se os pais, encarregados de educação e alunos que não há aulas por motivo de greve dos trabalhadores da administração pública.”
Ainda assim, à porta estão três professores e uma dezena de alunos surdos. Este é o único agrupamento que dá apoio a estudantes com problemas auditivos. Tinham uma visita de estudo marcada a Lagoa, onde vão assistir a uma peça de teatro e assim farão. Os professores que os acompanham não fizeram greve e, apesar de a escola estar encerrada, a visita vai mesmo realizar-se.
No Porto, no serviço de Finanças n.º 2, a porta abriu às 09h08. Das quatro secções de atendimento ao público, esta sexta-feira apenas estão a funcionar duas. Os serviços só estão abertos para pagamentos e rendimento.
Janil de Lima, que trabalha em Angola, pretendia mudar a morada fiscal, mas não sabia que a greve ia afetar as finanças. “É chato, porque já tenho viagem para este fim de semana, tenho de voltar para o trabalho e se não conseguir resolver o meu assunto hoje, vou continuar a deduzir o IVA aqui em Portugal quando não tenho benefício fiscal nenhum cá”, afirma, em declarações à TSF.
