Governo promete reconversão viária numa área metropolitana em ebulição na mobilidade
Num território com mais de três mil metros quadrados, com quase três milhões de habitantes, onde vivem mais de 950 pessoas por quilómetro e que representa cerca de 36% do PIB nacional, como se vão mover as pessoas em tempos de revolução tecnológica e num espaço que precisa de resolver constrangimentos de transporte? O debate sobre as grandes obras públicas na área metropolitana de Lisboa preencheu boa parte da 7.ª edição da Portugal Mobil Summit, quarta e quinta, no auditório do IPMA, no Passeio Marítimo de Algés
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Com BRT, Tunel da Trafaria a Algés, duas novas pontes, drenagem do rio, alargamento de metro a sul e nova cidade aeroportuária em perspetiva, um desafio foi lançado aos autarcas dos 18 municípios que compõem a área metropolitana de Lisboa, por José Manuel Viegas. O secretário-general do Fórum Internacional de Transportes, consultor da TIS e professor da Universidade de Lisboa, num dos painéis, afirmou: "Penso que hoje ninguém tem dúvidas de que boa parte dos problemas que vivemos nesta área do país só é resolúvel à escala metropolitana. Por isso, temos de ajudar a vitalizar os instrumentos de resolução dos problemas à sua escala. Eu tenho alguma experiência de montagem e gestão de consórcios e a área metropolitana de Lisboa é um consórcio. Não há nada melhor para fortalecer consórcios como projetos. Mais do que decretos, são projetos. Fazer projetos conjuntos. A força que, neste momento, os autarcas têm deve-se ao sucesso de um projeto que fizeram em conjunto e que correu bem. Agora, pegando nisto, quase que vos lanço um desafio. Vejam lá qual é o próximo grande projeto que querem fazer em conjunto."
Almada não quer perder batalha de transportes e avança com passe Navegante:
Sem adiantar data concreta, Inês de Medeiros, autarca de Almada anunciou que em breve, o passe Navegante vai chegar à margem sul, mas também referiu que por mais projetos que os municípios tenham, sem uma real oferta de transporte público, ninguém convence as pessoas a abandonar o carro. Afirmou mesmo que "os transportes públicos, que existem neste momento, têm que funcionar melhor.Tem que haver articulação horário entre os vários transportes, isso é fundamental. Tem que haver a confiança da periodicidade. Qualquer transbordo é mais longo, do que a própria travessia do rio e o próprio percurso e isto é um contrassenso relativamente àquilo que se pretende que seja o transporte público, mais rápido, mais barato, mais eficaz. Só com estas condições é que as pessoas vão deixar de usar o transporte individual. Enquanto as pessoas perderem mais tempo num transporte público do que perdem nas filas no transporte individual, nós estamos a perder a batalha do transporte público."
A presidente da câmara de Almada realçou ainda os progressos coletivos que se tem feito na região metropolitana ao nível do planeamento, "não podemos estar sistematicamente só a dizer o que funciona mal, se não soubermos construir as soluções e permitam-me puxar a brasa à nossa sardinha almadense, mas há anos que se discutia a extensão do metro até à Costa de Caparica, numa perspetiva de levar as pessoas para a praia, mas a extensão do metropoltano até ali, só faz sentido, se for para ligar à Trafaria e a partir daí, potenciar a melhoria do transporte fluvial que deixa de ir a Belém ( que não é interface nenhum) para ir de facto, até Algés, que é um verdadeiro interface de ligação a ouros meios de transporte, como o futuro LiOS, ou SATU, etc. Ou seja, não é preciso fazer mais planos. Todos sabemos o que é preciso fazer,. Não vamos repetir "ad nauseum" o drama do aeroporto. Sabemos o que é preciso ser feito e é preciso tomar a decisão de o fazer. Depois, há algo, de facto, muito importante e que é o redesenhar social e económico da área metropolitana."
Seixal exige barcos a tempo e horas:
O alargamento do metro do sul do Tejo está inserido nos projetos do chamado Arco Ribeirinho, nos quais o presidente da câmara do Seixal reclama melhor funcionamento nas ligações a Lisboa. Paulo Silva criticou a sobrecarga ferroviária, por mau funcionamento do transporte fluvial e as decisões sobre a opção dos barcos elétricos. O autarca é imperativo: "Temos de pôr todos os meios de transporte a trabalhar e as pessoas a confiar no transporte publico. Fala-se agora no transporte ferroviário, com a anunciada compra de mais carruagens, que vai, sem dúvida, desanuviar um pouco o problema, mas temos que lutar para o transporte fluvial também estar em perfeitas condições. Isto é chocante. Houve um investimento de dezenas de milhões de euros na compra de novos navios, que não estão a fazer o serviço como deve ser, porque foram comprados barcos sem baterias. Depois foram compradas as baterias e agora está um constantemente com problemas de carregamentos e funcionamento. À hora de ponta raramente o barco vai com mais de 50% da sua lotação, porque as pessoas não confiam no transporte fluvial. Há constantes supressões de carreiras. Há constantes atrasos e preferem ir, mesmo sem condições, de transporte ferroviário e isto não pode acontecer. Nós temos que pôr todos os meios de transporte a trabalhar e dar a confiança ás pessoas de forma a garantir que o transporte é para sair às 8 horas e sái às 8 horas. Não é chegarem à estação e estar suprimido e só haver às 8h30, pois essa meia hora, significa chegar atrasado ao trabalho, ou outro tipo de problemas. É esta a situação. Não podemos dar ao luxo de desperdiçarmos milhões de euros em barcos, para depois termos um meio fluvial, que não está a funcionar como deve ser."
Cascais quer gerir comboios da linha e dar passes gratuitos:
Outros problemas identificados nas autarquias da margem norte do Tejo. Cascais quer gerir comboios da linha e torná-los gratuitos. Para já, as obras de modernização e requalificação da ferrovia, que vão custar 11 milhões de euros, estão em fase de conclusão e o recém eleito presidente da câmara, Nuno Piteira Lopes, espera em breve reunir com o Governo, para transmitir o consenso dos municípios da região, num modelo de gestão conjunta de exploração.
O autarca afirmou que "a linha de Cascais é uma das mais antigas do país. Nunca tinha tido qualquer investimento e obras de requalificação estão a ser concluídas neste momento. Ao nível da infraestrutura, temos informação da parte do Governo que no início do próximo ano, começarão a chegar as novas carruagens e temos conhecimento também que o próprio programa do Governo prevê concessionar algumas linhas de caminhos de ferro. Nesse sentido, procuraremos que possa existir um alinhamento, do ponto de vista político, entre aquilo que é o pensamento de Cascais, de Oeiras e de Lisboa. Cheguei à conclusão que, quer o presidente, Isaltino Morais, quer o presidente, Carlos Moedas, estão também alinhados com a possibilidade das três autarquias poderem discutir com o Governo, quais as possibilidades e em que condições, é que estes três municípios podem ficar, do ponto de vista comercial, a gerir a linha de caminho de ferro e também as suas estações. Nesse sentido, estamos muito ansiosos para que possa existir essa primeira reunião de discussão com o executivo, para verificar as possibilidades, ou não, de concretizarmos este objectivo comum e estou certo que, os municípios têm uma proximidade e uma capacidade maior, de poder cuidar desse património. Poder cuidar dessa edificação. Em segundo lugar, porque no âmbito da mobilidade, em 2021, Cascais abriu o caminho ao transporte publico gratuito e eu entendo, que deveremos oferecer a todos os que moram, trabalham ou estudam, no concelho de Cascais, não só transporte rodoviário de borla, como também, no transporte ferroviário. Queremos oferecer aos cascaenses, a possibilidade de poderem usufruir da gratuidade na linha de comboio de Cascais."
Estado "obsoleto" trava LIOS, SATU e BRT em Oeiras:
O recém reeleito, Isaltino Morais subiu ao palco para dizer que a carris aumentou 40% o número de utentes no concelho, mas o autarca anfitrião da cimeira da mobilidade, realça que este tipo de questões fazem parte do quotidiano de Oeiras há décadas com vários projetos por concretizar, o caso do LIOS e do SATU, à espera de uma decisão do governo, a que juntou agora, a abertura do corredor para transporte dedicado na A5, com o projeto BRT, a desenvolver com Lisboa e num país, que para o autarca, "tem uma máquina obsoleta.
O presidente da câmara de Oeiras deixou o desafio para que "a propósito da mobilidade, se discuta a reforma do Estado, porque dificilmente nós a teremos. Fala-se muito da reforma do Estado e temos um modelo de planeamento em Portugal que está completamente obsoleto. É um modelo centralizador. É um modelo que não pensa positivamente. Pensa negativamente. Em vez de ser aquilo que se pode e deve fazer, é aquilo que não se pode fazer."
Para o autarca, " na verdade, ao longo de todos estes anos estamos numa área metropolitana Lisboa, que só agora, pela primeira vez que, toma medidas que são integradoras e que, de alguma forma, abrangem mais do que um município, o que quer dizer que, apesar das centenas de milhares de pessoas que vivem em toda esta região, de Oeiras, Cascais, Amadora, Sintra, etc., a verdade é que estavam sempre de costas viradas umas com as outras, há 6 ou 7 anos a esta parte. Agora que se comece a discutir o problema, numa perspectiva metropolitana, mas depois esbarramos em situações que têm a ver com o tipo de governo que temos. Porque todos falamos em área metropolitana Lisboa, mas na realidade, a área metropolitana Lisboa não existe. Só existe, digamos, organicamente. Realmente há um conjunto de municípios interdependentes uns dos outros, mas que na realidade, não têm um órgão de poder de decisão. Não há um órgão de governo. Na realidade, a área metropolitana não passa de uma associação de municípios que não têm competências próprias, a não ser aquelas que os próprios municípios lhe delegam. Depois, obviamente, na relação com o próprio Estado, cada município, de uma forma geral, negocia diretamente com o governo e não, com a área metropolitana como interlocutor. Só casos muito excepcionais e isto mostra que temos aqui, algumas dificuldades de organização que, nesta área justamente da mobilidade, como noutras, poderia conduzir a melhores soluções. Mais rápidas, muito mais céleres, se porventura, houvesse um modelo de governação eficiente e não há. E, portanto, também temos que o debater.
Lisboa quer passar projetos do papel à prática:
Joana Batista, que no anterior mandato foi vereadora da mobilidade em Oeiras, vai agora integrar a equipa de Carlos Moedas em Lisboa e enquanto não toma posse, recordou que nesta altura, o problema dos municípios é executar. Passar dos estudos à prática. À questão - O que é que é mais difícil e o que é que bloqueia? - Responde que " Falta fazer, porque, hoje em dia, o governo e as autarquias aplaudem o grande projeto do Parque Cidades do Tejo, que, no fundo, une as duas margens do rio e os dezoito municípios vão colaborar, com uma liderança metropolitana muito firme no próximo mandato autárquico, mas o que é certo, é que todos os projetos que integram este projeto maior, não são novos.
Adianta que "já ouvimos falar deles há uma década, duas décadas, três décadas. Quantos estudos, é que o nosso país já contratou e quantos projetos existem nas gavetas, seja para a terceira travessia, para a quarta travessia, para aquilo que é a reabilitação de áreas urbanas degradadas. Nós estamos bordejados de áreas urbanas degradadas, devolutas, decadentes, que têm de ser reabilitadas. Sabemos, há pelo menos três décadas, que temos de fazer a terceira e a quarta travessia. Temos estudos. Temos projetos e o erário público gasta muito dinheiro, milhões de euros em estudos e projetos. Qual é o bloqueio? Faze-las.
Aveiro resiste ao uso da bicicleta:
Antes de passar o testemunho ao futuro presidente da câmara de Aveiro, Ribau Esteves considera que há ainda muito por fazer no concelho, apesar do ferry elétrico e dos 45% de autocarros elétricos na fronte de transportes públicos, das ciclovias e da 3ª edição em preparação das bicicletas partilhadas, BUGA. O autarca afirmou mesmo que o principal desafio na área da mobilidade, é mesmo cívico e cultural, justificando que "há 50 anos, quando eu andei numa daquelas três escolas, 80% de nós íamos a pé ou de bicicleta. Os mais velhos tinham a autorização dos papás de ir a bicicleta, os mais novos iam a pé. Hoje, ninguém vai a pé. Nem ninguém vai de bicicleta. O papá, a mamãe, ou o avô, ou um tio, levam os meninos de carro, à porta da escola. Os nossos consumidores, os nossos utilizadores de BUGA, versão um e dois, cerca de 95% são os nossos turistas. Precisamos de conseguir mais adesões, numa dialética positiva, entre o que é que nós podemos fazer mais no espaço público para o qualificar, mas o que é que também podemos fazer ao nível de educar melhor. Aquilo que eu gosto de chamar de educação para o risco."
Tejo navegável permitirá retirar 1/3 dos camiões das estradas:
Vítor Caldeirinha, presidente da administração do Porto de Lisboa olha para o rio, como autoestrada navegável. Evoca estudos para adiantar que a dragagem do Tejo pode permitir o transporte de mercadorias por barco e retirar da cidade mais de um terço dos camiões que circulam naquela zona e que representam cerca de 600 mil movimentos de pesados por ano.
Justifica porque o Tejo tem potencialidades de autoestrada sustentável, considerando que a sua navegabilidade " é um projeto que já existe até Castanheira do Ribatejo, passando por Alhandra, Alverca, Vila Franca e Carregado. O projeto de dragagem oferece a possibilidade das barcaças de carga permitirem, de facto, retirar entre um terço a metade dos camiões das estradas, com os incentivos e financiamentos corretos. É possível dentro de 10 a 20 anos, canalizar a carga de um terço desses camiões para o rio. Nós estamos na fase de construção e de dragagem. Foi apresentado um estudo de impacto ambiental às autoridades, para avaliação de impacto ambiental dessa dragagem. Se for aprovado, seguir-se-à, um processo de exploração. É viável, mas terá obviamente, um custo verde de utilização. Vamos ver como é que vai acontecer. Depende também das circunstâncias políticas e dos próprios estudos, mas estou convencido que isso vai ser o futuro. Se calhar, até vai ser mais. Porque não, a distribuição ser feita também como no Norte da Europa, de barco de carga e depois ser expedita por veículos elétricos, ou bicicletas, evitando o recurso a carrinhas de distribuição de last mile? Tudo isto está previsto no plano estratégico dos portos e há muitos, muitos interessados nestes terminais. "
Há que equacionar modelos de financiamento para evitar riscos de 4.ª travessia ficar pelo caminho:
Nas obras para aproximar as duas margens, entra o túnel da Trafaria até Algés, mas também a construção das duas pontes e o BRT, que o secretário de Estado das Infraestruturas está disposto a discutir com concessionários e municípios. Hugo Espírito Santo deu conta que " um dos maiores desafios que nós temos é a A5 e temos aberta com a Brisa, para negociações rodoviárias, uma comissão de negociação em que queremos resolver a questão da A5. A introdução do BRT é reivindicada há muito e esta comissão vai avaliar como é que é possível. Qual é a melhor solução. Nós estamos obviamente muito preocupados com isso e com os vários nós, aqui da zona da área metropolitana de Lisboa, de acesso a autoestradas, que são importantes, para garantir maior fluidez de transportes e também aqui, há de facto, uma reflexão mais profunda a fazer. A breve trecho, espero abordar com a futura vereadora de Lisboa, Joana Batista, a nossa visão de reconversão viária da capital portuguesa, no pós encerramento do aeroporto da Portela, porque não é comum, devolvermos 750 hectares de terreno a uma cidade e temos um espaço enorme para soluções e possibilidades, que eu acho que devíamos, de facto, repensar."
Mas Hugo Espírito Santo vai avisando que é preciso colocar também em discussão pública, os modelos de financiamento das futuras obras publicas, porque sem portagens pode não haver sequer a 4ª travessia do Tejo, nem mesmo a 3ª e justificou "deixem-me ser muito claro, nós assistimos por vezes a discussões sobre as portagens. Olhando para tudo isto. Se não houver portagens, talvez consigamos ainda fazer a terceira travessia do Tejo, mas posso-vos garantir que não faremos uma 4ª ligação no Tejo. Nós temos de assumir o princípio do utilizador - pagador, mas temos também que refletir mais profundamente, como é que garantimos que ao longo dos próximos anos, todo o financiamento do setor rodoviário será resolvido. Sabemos bem, que ao retirar as portagens, com a redução da contribuição que existe, vamos ter aqui um desafio. Portanto, precisamos resolver isto. Precisamos de refletir sobre os modelos de financiamento do setor ferroviário. Continuar obviamente a trabalhar no modelo de financiamento do setor aeroportuário, que está bem definido no contrato de concessão e que tem, na nossa opinião, todas as condições para garantir que vamos ter um novo aeroporto. Há ainda obras nos aeroportos existentes, com base naquilo que é uma extensão aceitável do prazo da concessão e uma taxa de retorno aceitável, por parte da concessionária. "
Vozes criticas na área aeroportuária:
Não se sabe a percentagem do valor exato discriminado, destinado ao setor da mobilidade, no Orçamento do Estado de 2026, apenas que vai haver investimento público, quase 4 mil milhões para defesa e mais de 9 mil milhões direcionados aos ministérios da Economia, Finanças, Ambiente e Infraestruturas e quando se fala de cidade aeroportuária, há vozes criticas e dores de cabeça manifestadas.
Face ao calendário apresentado pela ANA para a execução do novo Aeroporto de Alcochete, Maria do Rosário Partidário, a professora do Instituto Superior Técnico que coordenou a Comissão Técnica Independente, considera que há condições para o novo aeroporto estar a funcionar em 2031 e se não está a acontecer, é por falta de vontade, explica que "esperava que fosse antecipada. Nós poderíamos ter o novo aeroporto a funcionar em 2031. Havia condições para isso. Se não está a acontecer, é porque alguém não quer. O que mais me confunde aqui é a posição do Governo, porque se os aeroportos de Portugal deixarem de dar lucro, a VINCI vai-se embora. Aí quem perde a oportunidade é Portugal. De fazer alavancar a sua economia, o turismo em particular, mas a economia em geral, porque isso, nós também demonstramos. Não é só o turismo que justifica o novo aeroporto. O turismo justifica bastante, mas temos, inclusivamente do ponto de vista das exportações, um crescimento e para essas o pais precisa de ter capacidade de conectividade com o resto do mundo. Isto é algo que Portugal, neste momento, está a perder. São só custos de oportunidade."
Outra dor de cabeça tem Bernardo Trindade. O presidente da Associação da Hotelaria de Portugal e ex-administrador da TAP, está mais preocupado com falhas do Estado, em matéria da infraestrutura aeroportuária atual, do que com os prazos de conclusão do futuro aeroporto. Desabafou em palco, que "sobretudo o que me preocupa é aquilo que está neste momento a acontecer em Portugal, nomeadamente na nossa principal infraestrutura aeroportuária, porque é a demonstração clara, de como o Estado falha e falha diariamente. Quando me refiro ao Estado, não é o estado deste governo, ou do governo anterior, é sobretudo aquilo que nós falhamos diariamente na relação com o mundo. O Estado falhou, em primeiro lugar, como concedente, na relação com a concessionária e, no fundo, na salvaguarda de aspectos que são fundamentais no contrato de concessão. É bom que, não para as nossas gerações, mas para as gerações futuras, se estude estes impactos, nomeadamente o que é que se deve vender. O que é que se deve privatizar. O que é que se deve concessionar. Claramente, setores em monopólio não devem ser concessionários. Estamos a falar de aeroportos, mas poderia falar na rede elétrica, ou outro qualquer exemplo. O que para mim é fundamental, é aquilo que se está a passar diariamente na nossa principal infraestrutura aeroportuária São questões relacionadas com o controlo de acesso de pessoas a Portugal. É a questão da segurança dos cidadãos. É, sobretudo, aquilo que todos nós, nesta sala e fora dela, sabemos, que é a imagem do país que nós estamos a transportar para todo o mundo."
IMT já fez legislação para testes reais de condução autónoma:
Quase a levantar voo estão os primeiros testes de condução autónoma. O diploma para regular esta matéria já foi entregue ao governo. A garantia é dada por João Caetano.
O presidente do IMT - Instituto de Mobilidade e Transportes, também professor do Istec assegurou que o IMT já fez chegar ao governo, um pacote legislativo, no sentido de permitir que sejam feitos, testes reais com veiculos autónomos, ou com tecnologias de elevado nível de automação e adiantou que "estará muito para breve a aprovação deste pacote legislativo, que depois, obviamente, estes testes serão realizados mediante a autorização do Conselho Executivo do IMT, com o devido enquadramento de segurança verificado por nós. Isto vai permitir que, de facto, as entidades portuguesas do Sistema Científico e Tecnológico Nacional, que estão a trabalhar em tecnologias de automação em veículos, possam testar as suas soluções em ambiente real. Isso confere aos projetos de inovação, uma maior maturidade e permitirá, acelerar a introdução de inovações no mercado. A partir do momento em que essa legislação estiver aprovada, se tivermos esse espaço, é preciso submeter esse pedido de realização de testes ao IMT, que avaliará as condições em que os testes serão feitos e os testes serão realizados.
Drone "Salva- Vidas" apresentado por spin-off do CEIIA:
Já a voar entre o Hospital de São João e a operadora logística, Rangel, está o novo drone ET-5, desenvolvido a partir de uma spin-off do CEIIA, em consórcio com outras entidades, para responder a urgências do transporte de órgãos ou medicamentos. Testes feitos com sucesso e à espera de nova infra-estrutura de aterragem própria.
O CEIIA tem outros projetos em fase de desenvolvimento. Helena Silva, diretora de tecnologia deste Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto, considera que Portugal pode ajudar a Europa na industrialização na área da mobilidade e até até avança como argumento, o facto de Portugal ter sido pioneiro na mobilidade elétrica. A gestora e investigadora dá conta que "fomos o primeiro país no mundo a desenhar e a produzir um carregador elétrico, quando ninguém sabia o que era isso. Nem sequer existiam normas e isso para os engenheiros é muito complexo. Criámos um consórcio de empresas portuguesas, com a EFACEC, a Críticalsoftware, a Novabase, a Inteli e o CEIIA e Portugal foi efetivamente um benchmark, na altura.
Quando a Renault lançou os veículos elétricos, foi em Portugal que fez os testes. Exatamente porque nós criámos uma rede de carregamento norte a sul do país, completamente interoperável, onde qualquer pessoa tinha acesso. Isto foi pioneiro também para a própria política pública, para o mercado, mesmo de mobilidade elétrica e também deixou muitas sementes, independentemente do próprio país e também da Europa, não terem acreditado na mobilidade elétrica. Nessa altura, todos a ignoraram. Já a China fez o contrário. O que aconteceu, foi que, ficámos com uma boa base, para termos evoluído para a mobilidade como serviço e para hoje estarmos muito bem posicionados na questão da sustentabilidade, com alguns prémios internacionais nesta área.
Aquilo que se está a passar na Europa também vem-nos dar um pouco razão. Não é que estejamos contentes com isso. Devia ter sido lá atrás, mas vem dar razão ao nosso percurso. Nós desde o início, desenhámos o CEIIA para focarmos muito em veículos pequenos, cidadinos, que fossem acessíveis e com zero emissões. Acho que é tempo, para Portugal pensar, se não seria uma boa ideia posicionar-se mesmo num futuro da mobilidade e do ponto de vista, quer das universidades, quer da indústria, também podermos trabalhar efetivamente em colaboração em torno de produtos. Em vez de, muitas vezes, estarmos preocupados em desenvolver conhecimento para terceiros, poder ser integrado a partir de Portugal, porque nós só conseguimos atrair e fixar recursos humanos, com projetos interessantes e de grande envergadura. A mobilidade é certamente uma área muito interessante para os nossos engenheiros. Para isso, é preciso nós começarmos a pensar em agregar competências, em torno de programas completos de ciência, tecnologia e indústria e deixarmos de achar que é melhor trabalhar para outros. Também podemos fazer alguma coisa pelo nosso país.
Novo regime para agilizar carregamentos:
Com Portugal no sexto lugar em matéria de mobilidade na Europa, (há novas diretivas em transposição e diplomas colocados a consulta pública, à espera do contributo de todos, fez saber o secretário de Estado da Junta de Energia.
Jean Barroca encerrou a edição deste ano da Portugal Mobi Summit, dando conta que o governo lançou recentemente a consulta pública da nova Diretiva Europeia das Energias Renováveis, também conhecida por RED3, na qual se estabelecem metas importantes, como 99% de energia renovável no consumo do setor dos transportes até 2030. Adiantando que "esta consulta é uma oportunidade para envolver todos, empresas, autarquias, investigadores e cidadãos, na definição das políticas que moldarão o futuro da mobilidade sustentável em Portugal. Em paralelo, lançámos também hoje a consulta pública, o quadro da Ação Nacional para os combustíveis alternativos, em conformidade com o Regulamento Europeu do Afir. Este plano define infraestruturas, define incentivos e define uma rede mais robusta e acessível, desde postos de hidrogénio e biometano, à expansão da rede de carregamento elétrico, incluindo postos marítimos e a questão dos aeroportos."
O secretário de estado adjunto e da energia reforçou ainda que "foi com este espírito que o Governo aprovou o novo Regime Jurídico da Mobilidade Elétrica, num decreto de lei aprovado em agosto. O objetivo é relativamente simples, modernizar, simplificar e acelerar. Palavras muito simples, mas com grande ambição. Carregar um veículo elétrico, será agora, mais fácil e mais previsível e todos os pontos de carregamento terão a opção de carregamento ad-hoc, sem necessidade de contrato, bem como, o pagamento de um carregamento de veiculo elétrico poderá ser feito por cartão bancário, por QR Code ou por aplicação móvel, como já acontece em muitos outros países europeus.
Jean Barroca deu conta também que a ERSE abriu uma consulta pública para rever a regulamentação do novo Regime de Mobilidade Elétrica e deixou um convite direto a todos, "autarcas, empresas, operadores, associações e cidadãos, para que participem ativamente. Queremos um modelo de mobilidade participativo, que seja justo e que seja transparente pois é aí, que projetos como o Flex-C, mostram também muito o futuro daquilo que é a mobilidade elétrica e do seu impacto na rede de energia, bem como, um carregamento inteligente em condomínios, autoconsumo coletivo e a integração da mobilidade elétrica na rede energética.
Para este governante, "Portugal já provou que sabe lidar com a ambição. Agora temos que garantir que a mobilidade sustentável é também acessível, segura, justa e para todos. "
Apostas na micromobilidade e no biodiesel sustentável:
Na edição deste an do evento, também explicados exemplos de micromobilidade, que estão a transformar cidades, como Paris, Adelaide, ou Curitiba, mas também entra na equação dos transportes, os combustíveis mais sustentáveis.
O caso da Repsol, que em Espanha reforçou o investimento industrial no complexo de Cartagena, onde produz mais de 2.250 toneladas, a partir de resíduos alimentares e espera no próximo ano, começar a produzir na nova fábrica em Portolhano, cerca de 200 mil toneladas de SAF, o combustível para a aviação. Também à apostar no hidrogénio, tal como revelou um dos responsáveis da empresa, Tomás Malango, a partir de três exemplos do que a empresa está a fazer em matéria de combustíveis renováveis.
O primeiro, tem a ver com a produção de SAF e de biodiesel, de HVO, adiantando que "temos uma unidade em operação em Cartagena desde 2024. Estamos em construção de uma segunda no centro de Espanha, que vai começar as operações em 2026, com capacidade de produzir 2.250 mil toneladas de HVO, ou 200 mil toneladas de SAF. Para fazer uma equivalência, estes valores permitem uma redução de emissões, equivalente a todos os veículos 1005 elétricos que temos em Espanha e as obras para a sua construção vão custar 250 milhões de euros, o que comparado com as subvenções que deram para os veículos elétricos, seguramente chegariam à conclusão que é bem menos. Isso será assegurando por capitais próprios da companhia, porque é uma solução disponível e economicamente imprescindível, para alguns sectores, desde a aviação, ao transporte marítimo e ainda aos veículos pesados, além de infraestruturas industriais.
Para o final da cimeira, um resumo de dois dias de debates com Charles Landry e Paulo Tavares, curadores da Portugal Mobi Summit com Pedro Homem Gouveia, conselheiro sénior da Polis que deixou a ideia: "Isto é sobre regulação. Finalmente, todos precisamos entender que a tecnologia é ótima. Tem grandes potenciais e riscos mas... a tecnologia não nos salva de fazer escolhas. Não nos dispensa de fazer escolhas difíceis."
