A limpeza da floresta tem novas regras. Especialista da comissão independente que avalia fogos de 2017 alerta que governo está a ir pelo caminho errado.
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A polémica limpeza da floresta perto de casas, aldeias e estradas tem a partir desta quinta-feira novas regras. As obrigações de limpeza passam a ser mais exigentes e a ter mais custos, mas há especialistas que duvidam que sejam de facto eficazes na prevenção dos fogos.
A principal mudança na gestão de materiais nas chamadas faixas secundárias de gestão de combustível (árvores, arbustos ou outra vegetação) passa por alargar de 4 para 10 metros a distância mínima permitida entre as copas dos pinheiros bravos e eucaliptos.
Para outras árvores a distância permitida entre copas é de 4 metros, numa diferença face aos pinheiros e eucaliptos cujo objetivo é promover o uso de árvores autóctones, mais resistentes ao fogo, nestas faixas criadas para travar o avanço das chamas e que claramente, segundo o governo, falharam e não têm conseguido proteger pessoas e bens.
Mais custos para os proprietários
As novas regras entram esta quinta-feira em vigor depois de publicadas ontem em Diário da República, mas Paulo Fernandes, investigador do Departamento de Ciências Florestais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) tem muitas dúvidas que sejam eficazes.
O especialista em incêndios diz mesmo que as novas obrigações arriscam-se a ter um efeito contrário ao pretendido pelo governo, pensando sobretudo no afastamento obrigatório das copas de eucaliptos e pinheiros que na sua opinião é a principal mudança neste decreto-lei que segundo o governo pretende clarificar o que está previsto no Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios.
O também membro da comissão independente nomeada pelo Parlamento que tem investigado a origem e propagação dos grandes fogos de 2017 argumenta, em declarações à TSF, que afastar as copas das árvores fica não apenas mais caro como, acima de tudo, facilitando a passagem de mais vento e de mais sol que vai favorecer o crescimento de arbustos ao nível do solo por onde o fogo também avança.
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Paulo Fernandes fala numa mudança "descabida" e diz que lhe parece evidente que os riscos são maiores, agravando os perigos para casas e população, não percebendo a opção técnica do governo que, por exemplo, não limitou o volume dos arbustos no solo por baixo das árvores, apenas estabelecendo um limite de 50 centímetros.
O presidente da Federação Nacional das Associações de Proprietários Florestais tem no entanto outra visão e argumenta que em termos teóricos afastar as copas das árvores é uma boa medida para prevenir o avanço das chamas, apesar de ser preciso garantir que existe limpeza dos arbustos no solo.
Vasco Campos diz que em geral as medidas do governo são boas, mas tem dúvidas que sejam exequíveis, na prática, sobretudo num ponto: a obrigação de não acumular lenhas numa faixa de gestão de combustíveis de 50 metros, algo que em muitos quintais é um espaço que nem chega existir.