Governo sem revelar número de alunos sem professor: escolas dizem que podia "condicionar eleições", diretores falam em "trabalho imenso"
A Missão Escola Pública estima que o número de alunos a quem falta pelo menos um professor ronde os 20 mil. Já a Fenprof indica um valor que se aproxima dos 30 mil
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Professores e diretores estão divididos quanto à interpretação das declarações do ministro da Educação: enquanto que os primeiros afirmam que a impossibilidade de "contabilizar de forma rigorosa" o número de alunos sem professores a pelo menos uma disciplina se deve ao medo de que os dados "confirmem que as medidas adotadas foram incapazes de dar respostas" podendo, assim, "condicionar as eleições", os últimos apontam o "trabalho imenso" que a contabilização daria às escolas.
Em declarações à TSF, Fernando Alexandre confessou esta terça-feira que o número de alunos sem professor a pelo menos uma disciplina poderá não ser "possível contabilizar de forma rigorosa".
O secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, contrapõem e assegura que, se o Governo quisesse, "em 15 dias tinham esse levantamento", pelo menos no que diz respeito aos dois primeiros períodos escolares.
"Qualquer coisa que respire dentro de uma escola é controlado por uma plataforma. Criavam com as escolas, contactavam e tinham essa informação", argumenta.
Mário Nogueira encontra nas eleições legislativas, marcadas para 18 de maio, a razão para que os números não sejam divulgados.
"É evidente que estando nós em cima de eleições, faltando menos de uma semana, não interessará ao Governo, muito menos ao ministro da Educação, vir confirmar que as medidas que foi tomando ao longo deste ano letivo foram absolutamente incapazes de dar a resposta necessária para resolver este problema", atira, deixando claro que as dificuldades se prendem com a "falta de professores".
Cristina Mota, da Missão Escola Pública, parte da mesma premissa para sustentar a afirmação de que os números iriam "mostrar que as medidas implementadas pelo atual Ministério da Educação não estão a surtir efeito", podendo, assim, "condicionar as eleições".
A responsável aponta ainda que, "ao contrário" do que diz o ministro da Educação, as escolas têm "informação" que permite extrair os dados necessários e lamenta a falta de "transparência" e de um "trabalho mais rigoroso" por parte do Executivo.
"Ao pedir os horários a cada escola, não só indica o professor que tem a falta, como também indica o número de alunos que comporta cada um dos horários", vinca.
A Missão Escola Pública estima, por sua vez, que o número de alunos a quem falta pelo menos um professor ronde os 20 mil. Já a Fenprof indica um valor que se aproxima dos 30 mil.
Esta visão é, contudo, contrariada pelo presidente da Associação de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas. Filinto Lima reconhece sentido às palavras do ministro da Educação, revelando que é preciso andar com "papel e caneta" para se conseguir chegar a um valor.
"Cada escola consegue saber, mas com muito trabalho, estes dados. É um trabalho que, se for realizado, tem de ser feito não com recurso a plataformas — porque não as temos —, mas com recurso ao papel e à esferográfica, às contas e à matemática, para responder a estas questões. O que dá um trabalho imenso a cada uma das escolas", defende.
Filinto Lima vê, então, com bons olhos que o Executivo tenha optado por falar "a verdade às pessoas" e aproveita a ocasião para pedir um investimento em sistemas informáticos que permitam obter a informação sobre o número de alunos sem professor de forma ágil.
"É preciso investir mais nos recursos do digital ao nível do Ministério da Educação, para que possamos saber quantos alunos não têm aulas, durante quanto tempo e a que disciplinas. Neste momento, a auditoria, pelo que parece, não vai conseguir responder à pergunta que fazemos desde o ano passado", aponta.
