Grupo convoca manifestação para quarta-feira perante "postura omissa" do MNE: Portugal "não quer" retirar Tarek de Gaza
Em declarações à TSF, Juma Josino dá como exemplo o caso de Tarek Al-Farra, um universitário palestiniano que precisa de um visto para fazer o mestrado em Portugal: "Pedimos com urgência que o Governo tome as devidas providências para que Tarek seja retirado e possa estar em Portugal até setembro"
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O Grupo de Apoio aos Refugiados Palestinianos marcou para quarta-feira, uma manifestação em frente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros português, para denunciar a "postura omissa" do Governo perante o pedido para retirar mais de 200 pessoas da Faixa de Gaza, a maioria crianças.
Há já quatro meses que o grupo espera e desespera por uma resposta do ministro Paulo Rangel, para o pedido de retirada de cerca de 200 pessoas do enclave palestiniano, a maioria crianças.
Em declarações à TSF, Juma Josino, do Grupo de Apoio aos Refugiados Palestinianos, critica a passividade do Governo português.
É uma postura completamente omissa diante da gravidade da situação do que está a acontecer. O que nós queremos enquanto sociedade civil é que o Governo português seja mais ativo. Portugal faz parte da Convenção de Genebra, tem todo o aparato jurídico para poder fazer operações de retirada, porque é que isso não tem sido feito?
Juma Josino confessa "temer pelo pior", já que 80% das pessoas na lista são crianças entre os 0 e os cinco anos. Ainda assim, o Ministério dos Negócios Estrangeiros ainda não deu qualquer tipo de resposta ao pedido de retirada.
Dá ainda como exemplo o caso de Tarek Al-Farra, um universitário palestiniano que precisa de um visto para fazer o mestrado em Portugal. O Executivo liderado por Luís Montenegro continua, contudo, a afirmar que Tarek terá de viajar até dia 7, para Ramala, na Cisjordânia, de forma a conseguir aí um visto - uma viagem que é praticamente impossível sem apoio externo.
"Tarek não consegue sentir um apoio efetivo do Governo português para que possa sair. O que nós pedimos com urgência é que o Governo tome as devidas providências para que Tarek seja retirado e que ele possa conseguir viajar para estar em Portugal até setembro", apela.
Sublinha ainda que, a todo o momento, Tarek "corre um risco imenso de vida", seja pela fome na Faixa de Gaza, seja pelos bombardeamentos israelitas.
"Ele está inscrito na Universidade Nova de Lisboa, foi admitido no mestrado em estudos ingleses e norte-americanos. Já pagou a metade do valor das propinas, já tem o certificado de matrícula, já tem a carta de admissão e ele, portanto, tem direito a um visto e a ser retirado", reforça, apontando que países como a França já têm levado a cabo este tipo de operações.
Juma Josino questiona, por isso, o Governo português sobre a razão pela qual "não quer" retirar Tarek da Faixa de Gaza. "É um direito dele e a gente vai lutar por isso", garante.
Em maio, o grupo já tinha apelado na TSF para que o Governo português retirasse da Faixa de Gaza cerca de cem pessoas, que incluem homens, mulheres e crianças.
Há muito que a ONU declarou o território mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” e “o mais elevado número de vítimas alguma vez registado” pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU tinha acusado Israel de genocídio em Gaza e de estar a usar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.
Após um cessar-fogo de dois meses, o Exército israelita retomou a ofensiva na Faixa de Gaza a 18 de março e apoderou-se de vastas áreas do território, tendo o Governo anunciado, no início de maio, um plano para “conquistar” Gaza, que Israel ocupou entre 1967 e 2005.
A 26 de julho, Israel comprometeu-se a “pausas táticas” de dez horas diárias nas zonas mais povoadas da Faixa, como a cidade de Gaza (norte), Deir Al-Balah (centro) e a costa de Mawasi (sul), e a estabelecer rotas seguras para a entrada de camiões de ajuda.
Desde então, todos os dias se registaram ataques a esses pontos nas horas em que Israel deveria observar tais pausas, além de que também não definiu rotas seguras para a entrada de ajuda humanitária.