Grupo VITA vai apresentar proposta de compensação financeira a vítimas de abuso sexual na igreja
Apenas sete pessoas mostraram interesse em receber uma compensação deste tipo, mas o grupo admite que mais pessoas possam "mudar de opinião".
Corpo do artigo
O Grupo VITA vai apresentar, no dia 19 deste mês, uma proposta de compensação financeira às vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica portuguesa, anunciou esta segunda-feira a estrutura criada pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
“A CEP pediu-nos uma proposta há algum tempo e nós temos vindo a ponderar sobre a mesma, a tentar perceber um pouco também o que é que tem vindo a acontecer noutros países e adaptando naturalmente aquilo que vai ser a nossa proposta concreta às características das pessoas que já nos procuraram e que já manifestaram essa vontade, esse desejo de poder ter aqui alguma reparação económica”, explicou à TSF a psicóloga Rute Agulhas, coordenadora do grupo para apoio e acompanhamento das vítimas de crimes sexuais em ambiente eclesiástico.
A par da apresentação da proposta vão ser explicados os critérios tidos em conta no processo e também a forma de operacionalizar uma eventual reparação, mas essa decisão fica nas mãos da CEP.
Esta forma de reparação, aponta a psicóloga, “acaba por ir ao encontro daquilo que são as pretensões” de algumas das vítimas: "Nós tivemos até ao momento 71 pedidos de ajuda, portanto, 71 situações que nos foram reportadas ou pelas próprias vítimas na primeira pessoa, ou por pessoas muito próximas e, destas 71 situações, temos apenas sete em que claramente o pedido da reparação financeira surge como algo que poderá ser importante.”
As restantes vítimas, que ainda podem “vir a mudar de opinião”, têm dito ao grupo que uma compensação económica "não é o caminho que querem seguir e que para elas é muito mais importante um outro tipo de ajuda, que é, no fundo, a ajuda que já estão a ter, nomeadamente o apoio psicológico, apoio psiquiátrico e mais importante ainda, talvez diria esta ideia de que, pela primeira vez, conseguiram falar, foram escutadas e foram acreditadas”.
A coordenadora do grupo VITA garante que sempre sentiu “abertura” da igreja para uma solução desta natureza, mas reconhece que "era preciso algum tempo” para a preparar, sublinhando que o próprio grupo existe há apenas oito meses.
"Não podemos esquecer que o relatório da comissão faz um ano, mas o relatório da comissão independente tinha anónimos, pessoas anónimas, tinha números, tinha letras e, portanto, não era possível com aquela informação sequer começar a pensar de uma forma mais concreta um eventual modelo de reparação financeira”, algo que hoje já não acontece porque há "pessoas concretas”.
“Temos rostos, temos nomes, temos histórias, situações vividas que conhecemos e é naturalmente mais fácil também, até para nós, enquanto grupo VITA, pensar a melhor forma de operacionalizar um processo desta natureza”, assinala.
Rute Agulhes defende também que o caminho que está a ser feito na Igreja Católica, seja em Portugal ou noutro locais do mundo, pode ser seguido noutros contextos em que acontecem “a maior parte das situações abusivas”, como são exemplos o desporto, as escolhas ou as “mais diversas estruturas onde as crianças se movimentam”.
O Grupo VITA pode ser contactado através da linha de atendimento telefónico (91 509 0000) ou do formulário para sinalizações, já disponível no site www.grupovita.pt.
Criado em abril de 2023, no âmbito da Conferência Episcopal Portuguesa, assume-se como uma estrutura isenta, autónoma e independente e visa acolher, escutar, acompanhar e prevenir as situações de violência sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica.
O Grupo VITA surgiu na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que ao longo de quase um ano validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4815 vítimas.
