Professor da Universidade de Évora alerta para riscos que podiam ser evitados se as pedreiras fossem exploradas de outra forma. E avisa que há uma lacuna na lei.
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Um dos geólogos que avaliou o risco da estrada fatal de Borba diz que é preciso alertar os empresários do setor que não podem continuar explorar pedreiras "sem olhar para o lado".
Luís Lopes, professor da Universidade de Évora e especialista nesta zona alentejana de mármore, admite que as imagens que têm enchido as notícias - e que para muitos parecem surpreendentes - com duas pedreiras ao lado uma da outra com uma estrada pelo meio são mais comuns do que se pensa: "É recorrente e há muito mais situações do género", afirma.
O geólogo, que num dos estudos que fez a pedido de uma das empresas de mármore chegou a alertar para o risco do talude que agora ruiu, diz que não está a falar de estradas tão movimentadas como aquela que ligava Borba a Vila Viçosa, mas há movimento pois são caminhos públicos de acesso às pedreiras onde circulam pelo menos trabalhadores, carros e máquinas pesadas.
Propondo "menos pequenos buracos e mais exploração em grandes áreas", Luís Lopes avisa que "é preciso chamar a atenção dos industriais que não podem continuar a explorar o seu cantinho sem olhar para o lado. A exploração integrada dos recursos fazia bem a todos, aumentando os rendimentos que são normalmente baixos e diminuindo os riscos".
Lei tem falha
O professor do departamento de Geociências da Universidade de Évora sublinha ainda que a lei das pedreiras tem uma falha ao permitir aos empresários suspenderem indefinidamente a atividade das pedreiras, levando a que estas passem a não ter trabalhadores e, naturalmente, menos atenção para a evolução do risco na estrutura.
Enquanto a atividade está declarada como suspensa (e não como terminada) junto das autoridades do Estado, sem qualquer custo para a empresa, explica Luís Lopes, o empresário não precisa de aplicar o obrigatório plano ambiental e de recuperação da paisagem.
Recorde-se que a pedreira da derrocada de segunda-feira estava com a atividade suspensa por falta de viabilidade económica do mármore.
O geólogo diz que as empresas deviam ser penalizadas com alguma espécie de custo quando declaram a suspensão da atividade pois na prática "o tempo passa e nada se faz".