
DR
As Molas são hoje um dos principais cartões de visita do Panamá e até dia 25 de agosto é possível ver esta arte panamiana na Casa da América Latina, em Lisboa.
Corpo do artigo
A exposição "Têxteis Extraordinários - Molas do Panamá" abriu as portas no passado dia 21 de junho e marca presença até 25 de agosto na Casa da América Latina. A mostra pretende dar a conhecer a arte dos Guna, ou Kuna, povo indígena do Panamá e, para depois desta exposição, estão já a ser preparadas outras duas, também dedicadas a dois países daquela zona do globo: primeiro o México, e depois o Peru.
Manuela Júdice, secretária-geral da Casa da América Latina, sublinha que estas exposições têm, além da intenção de mostrar a cultura destas duas nações, uma outra preocupação.
"A questão da sustentabilidade aparece muito porque não há nestes têxteis mexicanos senão matérias-primas mexicanas. Porque eles próprios são produtores de linho, algodão e seda e o que a próxima exposição vai mostrar é o processo todo: desde a planta, ou do bichinho, até à vestimenta final, é tudo mexicano, cultivo, mão de obra, é trabalho e economia local", afirma.
Pouco conhecidas por estes lados do globo, as "Molas" têm um papel central no povo Kuna, nomeadamente nas mulheres. São um dos mais tradicionais artigos do Panamá e começaram por fazer parte do traje deste povo indígena, mas hoje são muito mais do que isso, como explica o antropólogo panamiano Cebaldo de León, curador da exposição e ele próprio, um Kuna.
"Além de ser uma roupa diária, no fundo, é uma forma de transmitir mensagens, a história", assinala. Esta forma de arte, que conta essa história, é ainda hoje de difícil interpretação e os desenhos não são claros. Cebaldo de León sublinha que ainda estamos longe de entender verdadeiramente o significam as Molas.
"Interpretar isto é uma tarefa interessante e complexa porque muitas vezes é o que a mulher quer contar às outras mulheres. E essa é uma linguagem que os especialistas, os antropólogos e os artistas tentam interpretar, mas que não chegam a essa capacidade que as mulheres têm para contar as suas histórias. Esse é a força e a potência da moda", afirma o curador.
Nesta exposição há padrões geométricos e outros que parecem retratar animais. Existem também peças que podem parecer invulgares, mas que demonstram o caráter singular desta arte.
"Há uma representação do Natal que mostra uma senhora com o filho e, na parte de cima, um sino pequenino e uma árvore de Natal, que é a forma como contam o Natal, porque o Natal não é da cultura Kuna, ou seja, não é originária da cultura Kuna, porque a cultura Kuna tem outra crença. E depois há outra onde está representado Jesus Cristo", conta.
Uma coisa parece certa: os desenhos destas Molas são, muitas vezes, interpretações dos sonhos dos Kuna. Aliás, os sonhos têm uma grande importância para este povo indígena.
"Quando me perguntam 'como se diz bom dia na tua língua', eu lembro-me que a primeira frase que ouvimos quando acordamos é 'o que é que sonhaste'. Para mim, o bom dia em Kuna é 'o que é que sonhaste'", explica León.
As Molas são hoje um dos principais cartões de visita do Panamá e até dia 25 de agosto é possível ver esta arte panamiana na Casa da América Latina, em Lisboa