Quem passa na rua não desconfia. Nas traseiras do Museu Nacional Soares dos Reis, existe um velódromo mandado construir pelo Rei D. Carlos. Entre.
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O antigo velódromo Maria Amélia, inaugurado em 1894, já não funciona, mas ainda pode ser visitado, marcando previamente com o Museu Soares dos Reis.
No tempo do rei D. Carlos, faziam-se aqui corridas de bicicleta. Ainda se identificam perfeitamente os resquícios do velódromo, nas traseiras do Museu Nacional Soares dos Reis.
Maria João Vasconcelos, a diretora do museu, orienta-nos nesta viagem ao passado que fazemos agora no coração da cidade do Porto: "Aqui são as traseiras da Rua do Rosário, Miguel Bombarda, D. Manuel II e Adolfo Casais Monteiro".
Há muitos anos, isto era diferente. "No tempo do rei, isto era uma pequena mata, teria hortas, mas não era um espaço tão amplo". Neste momento, o museu abre "de vez em quando quando há as inaugurações das galerias de Miguel Bombarda".
O museu tem um projeto para ter este espaço aberto todos os fins de semana, com um restaurante a funcionar aqui, no velódromo. Mas enquanto Maria João Vasconcelos aguarda a resposta da candidatura aos fundos comunitários, continuamos a mergulhar numa viagem ao passado.
O Palácio dos Carrancas foi construído no fim do século XVIII pela família Morais e Castro. Mais tarde, foi comprado pela família real. D. Luís assinou a escritura.
"Os reinados de D. Luís e D. Carlos tiveram este apoio logístico no Porto. Houve várias visitas da família real ao Porto e ficavam instalados aqui", explica Maria João Vasconcelos.
É já durante o reinado de D. Carlos que o lóbi das bicicletas se impõe: "D. Carlos, numa relação de proximidade com a sociedade portuense, acedeu a um pedido do Real Velo Clube do Porto para se instalar aqui, na mata do Palácio Real".
Nessa altura, "faziam corridas de bicicleta, tinham campos de ténis, era um espaço frequentado também pelas pessoas da cidade".
"Temos fotografias da entrega de prémios aos vencedores das corridas. Era um desporto que estava na moda. É engraçado perceber esta relação de vitalidade desta zona da cidade, junto do Palácio de Cristal", frisa a diretora do museu.
Com a queda da monarquia, o palácio ficou sem uso. "Rapidamente, o abandono toma conta das estruturas: a tribuna caiu e a pista foi sendo tomada pelas ervas. Quando se instalou o museu, em 1940, não havia muitos sinais visíveis do percurso do velódromo".
O arquiteto Fernando Távora assina, então, um projeto de recuperação do palácio que mantém viva uma memória do velódromo que em tempos existiu. É fechar os olhos e imaginar que estamos no início do século passado.