Em termos de ação climática, o Orçamento do Estado (OE) tem nota negativa por parte da associação ambientalista ZERO
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O dirigente desta associação ambientalista ZERO, Francisco Ferreira, considerou esta sexta-feira, na conferência "Pensar a Energia” organizada pela Agência para a Energia (ADENE), que o Governo está a dar um sinal contrário ao que se propõe no Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC).
No painel “A Política do Clima e os Riscos Climáticos”, o professor da Universidade Nova considerou que há uma discrepância entre o que se ouve no discurso do governo e autarquias e está vertido no PNEC, e entre a realidade. Quando o OE prevê receitas pelo aumento dos combustíveis “é possível em 2025 assumir que eu vou ter um aumento de consumo destes combustíveis, quando para conseguir cumprir a meta de transportes deveria estar a reduzir as emissões em 5%?”, questiona.
“Quando eu começo a ver as medidas todas que estão em cima da mesa em termos de Orçamento de Estado e depois tenho o PNEC por um lado, e depois estas medidas, acho que há aqui uma esquizofrenia que não se entende", lamenta
O presidente da ZERO lembra que neste Plano Nacional está previsto reduzir em 55% os gases de efeito estufa até 2030,e desta forma essa meta será difícil de atingir.
No debate Vítor Santos, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), lembrou que Portugal também tem dado passos importantes em termos de descarbonização e que, no ano passado, 61% do consumo da energia em Portugal já resultou de renováveis.
No entanto, Francisco Ferreira considera que o clima está a mudar rapidamente, muito mais rápido do que todas as previsões feitas pelos cientistas e os comportamentos tardam em acompanhar este processo. Ao nível dos transportes, por exemplo, na sua opinião, ainda há um longo caminho a percorrer.
O ambientalista deu a conhecer um inquérito realizado pela Universidade Nova em que 65% dos inquiridos dizia ter ou gasolina ou carro pago e/ ou estacionamento pago pelas empresas em que trabalham. “ Quando as empresas se dizem muito sustentáveis e depois quando chega a hora da verdade ...alguma coisa se passa, não é?”
Recursos Hidricos no Algarve
Na mesma conferência, num painel em que se debateram os “Desafios e Soluções para a Seca no Algarve”, o dirigente regional da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) revelou que os terrenos estão demasiado secos e o que choveu nos últimos dias não deu para aumentar o nível das barragens, nem das águas subterrâneas.
“Temos a mesma água, isto é, estamos com 29% de armazenamento neste momento. O que ocorreu foi um decréscimo dos consumos, porque houve alguma pequena recuperação, mas em termos de balanço, entre entradas e saídas, ela é praticamente nula. Não houve acréscimo”, revelou Pedro Coelho.
“Nos aquíferos, então, essa questão ainda é mais significativa. Não há qualquer reação dos aquíferos", constatou.
O diretor regional da APA defendeu a construção da dessalinizadora na região porque, em sua opinião, vai permitir diminuir a pressão sobre o principal aquífero da região, na zona Querença- Silves, que tem um campo de captações de 15 hectómetros cúbicos. Pedro Coelho lembra que estas águas subterrâneas são de uma importância vital para a agricultura da região, visto que 50% dos citrinos são produzidos naquela zona.” O aquífero está em mínimos históricos; por isso, é urgente iniciar um processo de recuperação ambiental do e a dessalinizadora é uma oportunidade. A dessalinizadora, que irá ser construida no concelho de Albufeira terá uma capacidade para tratar 16 hectómetros cúbicos de água do mar e transformá-la em água potável.
A crescente ameaça das alterações climáticas e a disponibilidade dos recursos naturais estiveram em destaque nesta conferência promovida pela ADENE, com foco nas implicações para Portugal e na urgência de ações para mitigar estas mudanças.