Habitação em Braga: um problema transversal a várias gerações e nacionalidades
Um T0 pode custar 600 euros por mês. Senhorios pedem até cinco cauções para alugar espaços.
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Morar em Braga é cada vez mais difícil. O concelho que registou o maior crescimento no número de habitantes nos Censos de 2021, muito graças aos imigrantes brasileiros, que poderão ser cerca de 10 mil a residir na cidade dos arcebispos, vê a oferta de imóveis para arrendamento diminuir e os preços a aumentar para valores de 1348 euros por metro quadrado, segundo o INE - Instituto Nacional de Estatística.
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Cristiane Tristão tem 44 anos e chegou a Braga há dois meses para frequentar o mestrado em Mediação Educacional no Instituto de Educação da Universidade do Minho (UMinho).
Em dois meses, já passou por um hotel e duas casas de conhecidos com o filho de 16 anos. Provisoriamente, vive num quarto cedido por uma colega de curso pelo qual paga 350 euros. "Chorava todos os dias", confessa. Aquela que era uma oportunidade para atualizar conhecimentos, tem-se tornado num verdadeiro desafio.
Na UMinho, está inscrita no serviço de alojamento da Associação Académica, o Place Me. Contudo, até ao momento, sem qualquer resposta, visto que a oferta para arrendamento, em Braga, é limitada.
Nas redes sociais, Cristiane encontrou uma possível solução para colocar um ponto final neste "saltar de quarto em quarto". Porém, poderá não ser para já, pois ainda não arranjou um emprego que lhe permita pagar 600 euros de renda por um T0, na zona do Areal de Cima, mais despesas a partir de 50 euros, e conciliar com as aulas em regime pós-laboral.
No Jardim de Santa Bárbara encontramos José Sebastião, motorista de pesados com 49 anos, a "jogar na sorte". Há um ano que vive na cidade dos arcebispos. Atualmente, partilha o quarto de um hostel, junto ao local onde o encontramos, com mais quatro pessoas. Paga 220 euros.
Em breve, a mulher e o filho de 15 anos chegam a Braga, por isso, a busca por um T1 ou T2 marca o seu dia-a-dia.
"Os valores são uma loucura. Por um T1 chegam a pedir entre 800 a 900 euros, sendo que no centro da cidade já me pediram 1000 euros. Normalmente, os senhorios pedem dois arrendamentos e duas cauções, mas podem ir até às cinco cauções", denuncia.
Apesar das dificuldades, não pensa sair de Braga, uma vez que a inflação tem subido os preços em praticamente todas as cidades. As aldeias ou o interior do país não é solução, pois faltam empregos e transportes.
Município de Braga vai investir 123 milhões de euros, até 2026, em habitação
Não são apenas os estrangeiros que têm dificuldades em alcançar este direito fundamental que é o direito à habitação. De acordo com os dados da Bragahabit, empresa municipal dedicada à reabilitação do edificado urbano e à gestão dos apoios à habitação, em 2022, eram cerca de 300 os agregados familiares em lista de espera com pedidos para alojamento no concelho.
Este problema não olha a idades, o administrador da Bragahabit, Carlos Videira, revela que "semanalmente" chegam relatos de despejos, evocação da caducidade dos contratos e/ou aumentos das rendas que tornam os mais idosos num "público vulnerável".
O Município de Braga prepara-se para investir 123 milhões de euros, até 2026, em habitação no concelho para dar resposta às 1284 famílias que vivem em condições consideradas indignas.
Do lado da Bragahabit, através do 1.º Direito, um dos três avisos do Plano de Recuperação e Resiliência, estão previstos 72 milhões de euros para a aquisição de 87 frações, construção de raiz de 170 fogos e reabilitação de edificado.
Em breve, além do Apoio ao Arrendamento com um orçamento de 1,2 milhões, que no último ano chegou a 850 famílias, é intenção da autarquia avançar com um apoio à Prestação Bancária para Habitação Própria e Permanente. Os apoios poderão oscilar, em média, entre os 100 e os 200 euros mensais.
Para um imigrante entrar na lista de espera da Bragahabit é exigido que tenha residência na cidade há, pelo menos, três anos. O número começa a aumentar, mas ainda não é "significativo".
