Hérnias discais e tendinites, "não é difícil provar o desgaste da profissão de carteiro"
O Parlamento debate, esta quarta-feira, uma petição que defende que a profissão carteiro seja considerada de desgaste rápido. A TSF acompanhou o trabalho de Nuno Adão, no Porto. É carteiro há 27 anos e não tem dúvidas que a função parece simples, mas tem custos na saúde.
Corpo do artigo
Com farda cinzenta e vermelha, e calçado confortável, parecem formigas, passam em todos os sentidos. Há carteiros que já estão de saída, outros preparam o carrinho, no centro de distribuição, dos CTT, no Porto. Nuno Adão tem quase tudo pronto para mais um dia no centro da cidade.
"Normalmente entramos às sete da manhã. O serviço já foi todo preparado, portanto já estamos prontos para sair. Antes de arrumar o carrinho estive a preparar as cobranças. Depois vim para aqui, para o posto onde tenho a correspondência do dia, e já tenho as cartas sequenciadas. Dividi por três sacos. Agora levo um e depois os restantes".
Nuno é carteiro há 27 anos. Faça chuva ou faça sol percorre cerca de 12 quilómetros por dia. O esforço é contínuo e obriga a ter alguma resistência física.
"Para provar que andamos sempre um bocadinho carregados, temos as doenças profissionais que advêm desse esforço. Nomeadamente hérnias discais, eu tenho duas, e tendinites. Não é difícil provar que é uma profissão de desgaste rápido".
TSF\audio\2020\10\noticias\14\x_sonia_santos_carteiro_no_porto_reportagem_
Nuno Adão leva cerca de quinze quilos de cartas e encomendas no carrinho de mão, "que é uma grande ajuda, mas os ombros, os braços, tudo fica um bocadinho dorido". E muita responsabilidade nas costas, porque "nós, carteiros, somos um bocadinho a administração central do Estado na rua. Levamos de tudo, multas, cartas de condução, notificações, etc. Um carteiro faz tudo".
O dia de Nuno Adão começa às cinco e meia da manhã, com ioga e meditação que ajudam o corpo e a mente. Apesar de tocar a muitas portas, na cidade do Porto, sabe de cor quem mora onde.
"A primeira pessoa que vou encontrar é o senhor que é vigilante e porteiro, na Quinta da Seda".
Dez minutos depois já lá está. A distribuição, no prédio é rápida, porque em todas as entradas tem uma rampa de acesso. Quando não há, "temos de subir as escadas, porque o carrinho de mão não pode ficar abandonado na rua".
De novo na rua, Nuno Adão chega a um conjunto de moradias, onde tudo lhe é familiar.
"Quando chego aqui já sei se o cliente vai estar em casa. Basta olhar para o estacionamento. Isso é bom, porque quando se trata de uma encomenda, ela fica logo entregue. Se não estiver ninguém em casa, temos de andar o dia todo com isso no carrinho".
Quem abre a porta ao carteiro oferece de tudo. Nuno Adão já recebeu oferta de café, almoço, uma palavra amiga, um desabafo, ou apenas um cumprimento. No seu caso ouve e agradece. E alguns episódios não esquece. Como aquele, durante o confinamento, em que um senhor "me disse que eu fui a única pessoas a ver a barriga de grávida da mulher a crescer, porque eu ia lá todos os dias. O bebé, entretanto, já nasceu. Eu ainda não a crianças... Todos os dias temos contacto com as pessoas e isso é talvez o mais bonito da profissão de carteiro".
12918692