Dez mil brasileiros escolheram Braga para fugir da violência do Brasil e recomeçar uma vida.
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O sotaque brasileiro está ao virar de cada esquina. A cidade de Braga tem sido um dos destinos portugueses mais procurados pelos imigrantes brasileiros que fogem da violência e da criminalidade no Brasil.
"Comecei a vida aos 35 anos com 32 quilos de bagagem", desabafa Joyce Silva que veio para Portugal incentivada pelo marido, Leandro Antunes e um bebé com menos de um ano, para recomeçar do zero.
"O mais difícil é deixar para trás uma vida", confessa. Venderam a empresa e os bens que detinham para fugir às rotinas de violência. "Dois bandidos cercaram o carro com uma arma no para-brisas e mandaram-me descer. Quando agarrei no meu filho que estava no banco de trás um deles viu a criança, a chorar desesperado, e mandou-me embora. E eu ainda fiquei a pensar que o bandido foi legal. Chegou aí o momento que eu disse ou vou embora ou vou continuar nessa roleta russa, de sair para trabalhar e não saber se volto", contou Leandro Antunes.
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Maurício Horsth queria imigrar para Londres, cidade que conheceu enquanto estudante universitário mas, juntamente com a mulher, optaram por "um dos países mais seguros" da Europa e onde se fala a mesma língua. "Estávamos deitados a conversar sobre isto e no dia seguinte começamos a vender tudo". Seis meses depois Maurício e Renata Horsth estavam a aterrar em Portugal. Não ficaram em Lisboa, preteriram o Porto, escolheram Braga: "O nosso filho não está acostumado a andar a pé. Aqui é um lugar mais tranquilo para as crianças, principalmente. Ele tem 12 anos, sai da escola, atravessa as ruas e sabemos que os carros vão parar, cultura que também não tem no Brasil", justifica Renata.
Já Leandro Antunes é descendente de portugueses e foram as raízes que ditaram a escolha de Portugal. Tem uma tia em Lisboa mas as muitas pesquisas que fez na internet e nas redes sociais levaram-no a escolher outro destino. "Tem um vídeo de menina que fala do crescimento de Braga em relação a empregos e ao turismo e eu fiquei apaixonado pela cidade. Vim e tive muita sorte em todos os aspetos. Consegui arrendar um imóvel próximo do centro, com fáceis acessos e tive sorte até com o meu emprego. Cheguei a 25 de agosto [2017] e comecei a trabalhar dia 13 de outubro", relata Leandro que trabalha na mesma empresa de componentes de automóveis que a mulher.
Maurício e Renata Horsth vivem em Braga desde março e também não tiveram dificuldades de integração no mercado de trabalho. "Na área da cozinha e restauração há uma grande carência de pessoas qualificadas. Eu vim graduado e em 20 dias fui contatado. Estar legalizado também ajudou", conta o chef de cozinha.
"Tem muitos brasileiros a chegar mas também tem muita gente que vai embora", adverte Leandro Antunes que através de um canal de YouTube "Conexão Rio Braga" tem ajudado muitos compatriotas a preparem a chegada. "Se não estiver legalizado não vai dar certo", assim como "se vem a pensar que vai dar para mandar grana para o Brasil, esquece. Aqui há trabalho, emprego nem tanto". Outro dos aspetos a que é preciso dar atenção é a dificuldade de arrendamento. "Estão pedindo seis meses adiantados de renda, nalguns casos um ano e até fiador".
Não há estatísticas oficiais mas de acordo com estima-se que haja 30 mil brasileiros fixados em Braga. Pelas contas de Ricardo Rio, o presidente da Câmara Municipal, só nos "dois, três anos" chegaram à cidade cerca de 10 mil cidadãos brasileiros, de acordo com "vários indicadores indiretos". A maioria desta nova vaga de imigração é da classe média/alta e qualificada, que "não vem criar problemas do ponto de vista da sua integração profissional".
Para o autarca, "o único fator negativo da chegada em massa desta comunidade tem sido a pressão sobre o mercado habitacional que tem vindo a registar um agravamento dos preços mas Braga tem sabido absorver esta população com relativa facilidade e com satisfação para ambas as partes".