No dia em que é apresentado um livro com testemunhos de exilados e desertores portugueses na Europa, a TSF dá voz a alguns deles. Fernando Cardoso recorda os tempos que passou em Paris.
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Fernando Cardoso partiu para o exílio em 1970. Cumpria na altura o serviço militar em Tavira e depois o seu destino seria a guerra colonial. Sabia que não ia participar numa guerra que considerava injusta mas isso não significa que a decisão fosse fácil. "Desertar significava um corte com toda a vida. Éramos uns jovens com 20 anos. Deixávamos os amigos, as namoradas, o café, tudo".
Quando partiu para França em 1970 já milhares de portugueses tinham optado pelo exílio. Para passar a fronteira, Fernando Cardoso beneficiou dessa experiência acumulada. "Havia circuitos testados de passagem de fronteiras. Quer da portuguesa para a espanhola, quer da espanhola para a francesa. Utilizei um desses circuitos controlados e testados previamente. Não houve grandes percalços nessa matéria", recorda.
Em Paris, o agora presidente da Associação de Exilados Políticos Portugueses contou com o apoio de muitos compatriotas que viviam na capital francesa. A adaptação foi fácil, mas há sempre alguma coisa que faz falta. "Pensava muitas vezes na minha rua, no sítio onde morava, no meu bairro, nos amigos, em tomar um café à noite, estar sentado num passeio apesar de a polícia aparecer e nos mandar levantar. Evidentemente que tinha saudades de toda a minha vida" em Portugal.
Fernando Cardoso regressou a Portugal em junho de 1974. Diz que não o fez totalmente seguro. Nessa altura ainda não estava certo sobre o rumo da revolução. "Lembro-me de os camaradas da Holanda e da Suécia olharem para a televisão e dizerem: estes gajos parecem os tipos do Chile. Quando vim em junho tinha um Bilhete de Identidade francês porque não sabia o que era este país dirigido por militares".
Depois de esclarecidas as dúvidas, Fernando Cardoso deixou para trás 4 anos de exílio.
O livro "Exílios - Testemunhos de exilados e desertores portugueses na Europa (1961-1974)" é apresentado esta quinta-feira, em Lisboa.