Hoje é o primeiro dia do resto da nova vida do "Aurora do Lima", o jornal mais antigo do país
Primeiro número do "Aurora do Lima" saiu a 15 de dezembro de 1855 e foi publicado ininterruptamente até aos dias de hoje.
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A Câmara Municipal de Viana do Castelo formaliza esta quinta-feira a compra do espólio do jornal "Aurora do Lima" que, com 166 anos de existência, é o mais antigo do país. Após a compra, a coleção de jornais será digitalizada e colocada à consulta do publico, através da criação de uma hemeroteca. A sede também deverá ser comprada para ser transformada numa casa de memória, com a redação a funcionar no mesmo espaço. Hoje será, assim, o primeiro dia do resto da vida do "Aurora do Lima", que, em Portugal continental, é o que existe há mais tempo. Anterior a este continua, também em atividade, o "Açoriano Ocidental" fundado em 18 de abril de 1835, nos Açores.
"A coleção do jornal, se se perdesse, era um crime. Felizmente a Câmara entendeu que a devia adquirir, dar-lhe o devido enquadramento e colocá-la 'online' acessível a todos aqueles que queiram estudar a história do jornal, da cidade e conhecer a vida económica, social e política de Viana do Castelo", Gonçado Fagundes, que recentemente assumiu a direção do título, por doença do diretor Bernardo Barbosa.
O primeiro número do "Aurora do Lima" saiu em 15 de dezembro de 1855 e foi publicado ininterruptamente até aos dias de hoje. A sua antiguidade é acompanhada pela decrepitude das instalações, situadas no nº 207 da Rua Manuel Espregueira, em plena cidade. A autarquia tem também apalavrada com os proprietários a compra da sede. A coleção de jornais custará 170 mil euros e o edifício, ainda em negociação, rondará, em princípio, o mesmo valor.
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A TSF visitou o imóvel com dois andares, que já está em parte devoluto. A coleção de jornais está salvaguardada numa pequena divisão, com as paredes protegidas com placas de esferovite. Na antiga gráfica, nas traseiras, jaz inerte, coberta com panos, maquinaria de impressão e dobragem, alguma primitiva, ainda do tempo da fundação. Teias de aranha, mofo e caruncho tomaram conta dos corredores e de alguns espaços.
"Isto é demonstrativo da degradação do jornal, que precisa, de facto, de uma lufada de ar fresco", diz Gonçalo Fagundes, enquanto mostra as instalações e referindo que para ser recuperado, o imóvel terá de ser em boa parte demolido e reerguido. "É imperioso deitar a mão a isto. Isto é um passo em frente na manutenção de um jornal que é muito querido e reconhecido como o mais antigo do país. É o jornal onde colaborou a nata da intelectualidade da cidade e também Camilo Castelo Branco e Ramalho Ortigão. Era um crime deixá-lo morrer", afirma Gonçalo Fagundes.
O título continuará nas mãos dos atuais proprietários, com redação a funcionar no atual edifício, após realização de obras. O jornalista mais antigo, Manuel Sotomayor, aprova a ideia: "Mantendo a independência editorial, é bom. É um reconhecimento. Isto é um património, uma instituição, que já pertencem à cidade e a todos nós. É a história de Viana do Castelo, ao longo de 166 anos, que está aqui documentada". E a jornalista, colega de redação, Cidália Rodrigues, resume: "Só tem pontos positivos: manter a linha editorial, com mais fôlego orçamental e preservar a história. É uma lufada de ar fresco".
O jornal mais antigo de Portugal continental tem, além do corpo redatorial e dois funcionários, "correspondentes" nas freguesias de Viana do Castelo. E tem no seu ADN a opinião dos intelectuais de Viana do Castelo e na sua história escritos de ilustres como Camilo Castelo Branco e Ramalho Ortigão.