"Hoje vai ser um segundo 25 de Abril." Professores manifestam-se contra "caos na educação"
Manifestação começou no Marquês de Pombal e segue pela Avenida da Liberdade, terminando no Terreiro do Paço.
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Milhares de professores manifestam-se, este sábado, em Lisboa, numa marcha convocada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP) em defesa da escola pública e contra as propostas de alteração aos concursos. Nair Resende é professora de educação musical, em Aveiro, e partiu de manhã em direção a Lisboa, de autocarro. Atrás, vêm outros três com cerca de 400 pessoas. Em declarações à TSF, Nair Resende não esconde o entusiasmo.
"Isto hoje vai ser um segundo 25 de Abril. Vai ser um dia histórico hoje e tem que ser, nós não nos vamos calar mais e, enquanto não houver alterações, não há aulas para ninguém. Nós chegámos mesmo ao fundo do poço, e, por nos preocuparmos tanto com os alunos e com os pais, esperámos pacientemente 20 e tal anos, mas agora não temos forças para mais", afirma Nair Resende.
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Uma das críticas que tem sido feita à greve do STOP é o facto de estar a acontecer numa altura em que decorrem negociações com o Ministério da Educação. Nair Resende defende que, precisamente por isso, é agora que os professores têm de protestar.
"Tem que ser exatamente nesta altura, porque isto começou há 20 anos e nós esperámos pacientemente. Desta vez já não podemos esperar nem mais um ano, nem mais um dia, nem mais um segundo, estamos a protestar para que não voltem a incorrer na mesma asneira, porque a tutela desta vez não nos vai calar com migalhas", sublinha.
Margarida Tavares vive em Torres Vedras, mas é professora de educação especial em Lisboa, e é uma das presentes nesta manifestação. Ouvida pela TSF, diz que a brincadeira acabou.
"Acho que chega de brincarem connosco, isto é uma falta de respeito por nós, professores, pais e alunos. Na educação especial, precisamos de determinadas coisas e vemos as condições em que estamos. Não há professores, não há apoio para estes miúdos. É o caos na educação", sustenta.
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A professora de ensino especial acredita que a sociedade portuguesa compreende este protesto: "Pela primeira vez, as pessoas estão a ver aquilo que nós passámos", diz, dando o exemplo de outros docentes que são colocados em escolas a centenas de quilómetros de casa.
Os docentes estão concentrados no Marquês de Pombal e seguem depois para a Praça do Comércio, no centro da capital.
Ao som de tambores e de buzinas, os professores levantam lenços brancos para dizer "adeus ao senhor ministro" e exibem cartazes a pedir dignidade pela profissão, pela escola pública e pelo acesso ao topo das carreiras.
Em declarações à agência Lusa, o coordenador nacional do STOP, André Pestana, disse que a luta dos professores é pela defesa da escola pública e reúne também pessoal não docente, todos na exigência de uma "escola pública de qualidade e de excelência".
Para o sindicalista, esta contestação - que deverá aumentar na próxima semana, depois de declarações do ministro da Educação, João Costa, na sexta-feira, manifestando-se preocupado com a desproporcionalidade da greve convocada pelo STOP e admitindo a possibilidade de recorrer a serviços mínimos - é também "uma luta pelos alunos".
"Ministro, escuta, a escola está em luta", "não à municipalização" e "unidos pela educação" são algumas das palavras de ordem dos milhares de participantes no protesto.
Além de reivindicações antigas relacionadas com a carreira docente, condições de trabalho e salariais, os protestos foram motivados por algumas das propostas do Governo para a revisão do modelo de recrutamento e colocação de professores, que está a ser negociada com os sindicatos desde setembro.
Em particular, contestam a possibilidade de incluir outros critérios de seleção, além da graduação profissional, ou de os professores passarem a ser contratados por entidades locais ou pelos próprios diretores. O Ministério da Educação já desmentiu, no entanto, essa informação.
Apesar de as principais reivindicações serem partilhadas pelos sindicatos do setor, a marcha de hoje é iniciativa apenas do STOP e não vai contar com a adesão dos restantes sindicatos, alguns dos quais já tinham agendado uma manifestação, inicialmente para março e entretanto antecipada para 11 de fevereiro.
Nas redes sociais, o STOP revelou que dirigiu à UGT e à CGTP convites para participarem na marcha, mas, em resposta à Lusa, o secretário-geral da Fenprof, afeta à CGTP, disse que o plano de luta definido em convergência com outros sete sindicatos "é muito exigente e a dispersão por outras ações não ajudará à sua concretização".
Por outro lado, Mário Nogueira afirmou também que quando anunciou a greve, a plataforma de sindicatos apelou a que as restantes organizações se associassem ao protesto, mas sem respostas. Alguns dias depois, o STOP convocou o protesto de hoje. Além da greve convocada pelo STOP, está a decorrer desde o início do 2.º período uma greve parcial ao primeiro tempo letivo, convocada pelo Sindicato Independente dos Professores e Educadores, que se vai prolongar até fevereiro.
Entre 16 de janeiro e 08 de fevereiro realiza-se uma outra greve por distritos, convocada pelas mesmas oito organizações sindicais, que também estão a preparar uma concentração em frente ao Ministério da Educação em 20 de janeiro, no dia em que voltam a sentar-se à mesa com o Ministério da Educação.
As paralisações têm levado ao encerramento pontal de várias escolas. Na quarta-feira, o Ministério da Educação revelou que pediu um parecer jurídico à Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a legalidade da forma de execução das greves.
* com Lusa