Os hotéis Rio do Prado e The Literary Man e a casa de pasto The History Man fecham o círculo - ou talvez não -, dos sonhos de Marta Garcia e Telmo Faria. O vinho da Madeira não tem que ser licoroso e Diana Silva saiu fora da caixa para apresentar o "Ilha" em três cores. Armando Ribeiro soma e segue na direção criativa com "O Apartamento" e as novas tendências de um "Criative Hub".
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O Rio do Prado começou por ser um hotel diferente, sustentável, com uma "camuflagem" pouco vista. Os quartos, que parecem pequenas casas enterradas no terreno, são generosos no espaço e comodidades. Perto há uma estufa onde se fazem refeições e um edifício principal onde está instalado o restaurante Maria Batata com o seu conceito "Farm to Table", ou seja, a aposta no consumo dos produtos que vêm dos terrenos ali ao lado. Cada vez mais.
Marta Garcia e Telmo Faria são os mentores do projeto a que chamam "turismo criativo e sustentável" e, ao longo dos anos, têm aumentado o portfólio. Depois do Rio do Prado veio o The Literary Man no centro da vila de Óbidos. O hotel literário tem o recorde mundial do número de livros que alberga, mais de 70 mil, e a coleção não para de crescer.
Recentemente abriram uma casa de pasto, The History Man. Um restaurante também com um espólio de livros sobre tradição culinária e igualmente no centro da vila medieval. Três conceitos, três personagens, como refere Telmo Faria: "o homem fazedor no Rio do Prado, o homem literário no The Literary Man e o homem histórico na Casa de Pasto.
Telmo Faria conhece bem a região. Foi presidente da Câmara de Óbidos durante três mandatos e organiza um dos mais prestigiados encontros literários do país (que já ultrapassou fronteiras): A Fólio.
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"Ilha" de três cores
Diana Silva não desistiu. Insistiu numa casta amaldiçoada na Madeira e resolveu fazer vinhos DOP, Denominação de Origem Protegida, em vez dos habituais vinhos licorosos.
A ideia foi pegar na casta Tinta Negra, semelhante à Pinot Noir, e fazer três vinhos: tinto, branco e rosé com o mesmo nome: Ilha. Diana Silva formou-se em Comunicação e Turismo, trabalhou na Blandy"s na Madeira, mas decidiu desenvolver parcerias com os viticultores e fazer o seu vinho na Adega de S. Vicente. Diana, com apenas 33 anos, diz que a casta serve para os vinhos licorosos, mas tem sido maltratada na Madeira pelo enfoque na quantidade e menos na qualidade. O grau alcoólico da casta é reduzido e por vezes não chega a 10 graus, o mínimo para fazer vinhos DOP, o que a tem direcionado para os vinhos licorosos.
Diana passou a comprar mosto retificado na Europa para lhe conferir mais grau (ronda os 12%) e, contra todos os que a tentaram demover da ideia de fazer vinhos monocasta Tinta Negra, avançou para os tintos e rosés e o branco, feito a partir das mesmas uvas tintas: um "blanc de noir.
O sucesso mediu-se pelos muito pedidos que recebeu, das 11 mil garrafas já só tem algumas para guardar e recebeu pedidos, entre outros, das garrafeiras Nacional e Imperial, do Clube Gourmet do El Corte Inglés e de alguns restaurantes de topo como o "100 Maneiras" e Belcanto. Apresentou recentemente os seus vinhos em Lisboa e prometeu que além do Tinta Negra vai também passar a vinificar uma das castas mais importantes da Madeira, o Verdelho, e já descobriu um agricultor que produzia vinho apenas para o seu próprio consumo. Mas que agora vai passar a trabalhar com Diana Silva.
O caminho começou agora, mas pela avaliação dos seus vinhos "Ilha", Diana Silva tem um futuro risonho à sua frente. Nas rolhas pode ler-se "amor à terra e crença no terroir".
O apartamento partilhado
Armando Ribeiro quis ir mais além e a sua equipa acompanhou-o na ideia de criar uma vertente diferente da já existente agência de comunicação.
Começou por se focar nos clientes, mas quando alugaram um apartamento na Rua Duque de Loulé perceberam que a comunicação também passava pela criação. Passaram a ser duas vertentes que se juntaram e, além da assessoria, criam eventos como apresentações de editoras ou jantares especiais que são, como refere o mentor, "um projeto de partilha com morada fixa". Armando Ribeiro quer que o Apartamento seja "um acelerador de partículas urbanas, isto é, unir, e reunir gente de diferentes espetros, criar sinergias, fomentar projetos. Estamos no centro de Lisboa para levar Portugal ao mundo e trazer o mundo até Portugal".
Depois da Duque de Loulé, O Apartamento tem nova morada no Largo de S. Mamede a dois passos do Príncipe Real no centro de Lisboa. Houve eventos como o churrasco com o chef Nuno Bergonce ou a editora alemã "Gestalten" que esteve uma semana no Apartamento a promover livros e revistas.