Homofobia e intimidação. Procurador denunciado por Pinho pode ser alvo de processo disciplinar
Antigo ministro denunciou o que entende serem declarações homofóbicas proferidas pelo procurador que coordenou as buscas domiciliárias de que foi alvo no início de novembro.
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O procurador que há uma semana liderou as buscas à casa de Manuel Pinho e que é acusado pelo ex-ministro de ter proferido afirmações homofóbicas pode vir a ser alvo de um processo disciplinar, confirmou à TSF o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público.
Numa carta revelada pela TSF esta quinta-feira, Pinho revela que, aquando das buscas domiciliárias de que foi alvo a 3 de novembro, o procurador que liderou as diligências fez "considerações homofóbicas" sobre vários magistrados, especificamente o "juiz que foi titular do processo até recentemente".
"Disse ele, segundo tenho em memória, que as decisões daquele magistrado seriam 'resultado do seu traumatismo em ser homossexual'", escreve o antigo ministro na carta que enviou à procuradora-geral da República.
Agora, e embora sublinhe que só é conhecida a versão do ex-governante, o líder do sindicato, Adão Carvalho, assinala que "a verificar-se" o que foi denunciado, estará em causa a violação das normas disciplinares a que os magistrados do Ministério Público estão obrigados.
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"Além de matéria criminal, pode fazer o magistrado incorrer em responsabilidade disciplinar, desde que se demonstre que realmente agiu dessa forma" e, para tal, a PGR tem de encaminhar a queixa que recebeu para o Conselho Superior do Ministério Público, que é "entidade com competência em matéria disciplinar".
A queixa, sublinha Adão Carvalho, é "um direito dos cidadãos perante algum comportamento menos correto" e o estatuto dos magistrados é claro no que respeita a questões disciplinares.
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"Compete ao conselho aferir se o magistrado em concreto agiu, ou não, em violação das normas e regras a que está sujeito" e as infrações "podem ir de leves a muito graves".
"Todos os anos", garante, há magistrados que são objeto de sanção que vão da "suspensão de exercício de funções a multas e até mesmo à expulsão, o que já aconteceu".
Adão Carvalho explica que começa por ser "designado um instrutor do processo disciplinar", para o conduzir, que no fim decide, ou pelo arquivamento, ou "pelo contrário, por querer que seja aplicada uma pena disciplinar".
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Neste último caso, uma secção do Conselho Superior com elementos "eleitos pela Assembleia da República, pelo Ministério da Justiça e pelos magistrados", que decide "primeiro se existiu ou não uma infração disciplinar e depois se deve ser ou não aplicada uma pena".
Na carta que enviou à PGR, Manuel Pinho denuncia também que o procurador em questão é reincidente neste tipo de afirmações, a que chama "considerações cavernícolas" feitas "com o maior à vontade", no que diz ser uma amostra da "convicção de quem as proferiu".
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"Quem faz afirmações homofóbicas deste calibre fica automaticamente desqualificado para exercer uma função que, para bem de todos, tem de ser assegurada por quem tenha os mais sólidos padrões morais e respeite os direitos assegurados na Constituição da República", sustenta ainda na missiva que endereçou a Lucília Gago e na qual exige também medidas disciplinares e criminais.
A queixa seguiu também para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, ao Parlamento Europeu, à Comissão Europeia, à Agência Europeia dos Direitos Humanos e à Comissão para a Cidadania e Igualdade do Género.