Cada hospital regista e trata de forma diferente os utentes não residentes sem cobertura de saúde que chegam às urgências das unidades públicas. A resposta das ULS ao questionário da Inspeção Geral das Atividades em Saúde mostra que o sistema não prevê esta hipótese, mas também não permite perceber se há ou não fraudes
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Todas as Unidades Locais de Saúde (ULS) garantem que não recusam tratamento a ninguém por falta de documentos ou de pagamento. Os números que vieram lançar a polémica referem-se apenas ao atendimento em serviços de urgência hospitalar e demonstram que os casos de potencial burla ao SNS são de pessoas que chegam como vítimas de acidente ou de agressão, em perigo de vida por doença, em trabalho de parto ou pessoas com doença infeciosa, como malária ou tuberculose.
Há também referência a imigrantes ilegais, familiares de trabalhadores migrantes legalizados, requerentes de asilo, refugiados ou pessoas que não se sabe que língua falam.
O SNS dispõe de um Manual de Acolhimento no Acesso ao Sistema de Saúde de Cidadãos Estrangeiros, da autoria da ACSS, a Administração Central do Sistema de Saúde que, está em vigor há uma década, mas não prevê nada semelhante ao chamado "turismo de saúde" que agora se discute. Talvez seja por isso que cada ULS faz a sua própria interpretação deste manual e trata dos casos à sua maneira.
A ULS de Trás-os-Montes envia a fatura por correio; na de S. João, no Porto, a regra é cobrar ao próprio logo na altura, quando é possível; na do Alto Alentejo admite-se que não há mecanismo para cobra e na ULS de Santa Maria, em Lisboa, o caso pode acabar no serviço de contencioso do hospital.
No interior norte e centro do país, estes casos ficam-se, geralmente, por algumas dezenas por ano. Já nos grandes centros urbanos são alguns milhares.
A ULS Amadora Sintra, a que atende mais estrangeiros não residentes sem cobertura de saúde, 23 mil em quatro anos, tenta cobrar no momento da admissão, mas quando não consegue entrega os dados para pagarem mais tarde. Outra com muitos casos é a ULS do Algarve, que classifica estas pessoas como irregulares ou independentes e tenta enviar a fatura por correio ou e-mail.
No fundo, o resultado é quase sempre o mesmo: as dívidas são, regra geral, incobráveis e a fatura é paga pelo SNS. Por aqui também não se percebe se estes não residentes são muitos ou poucos nem com que intenção chegam às urgências dos hospitais.