Hospital acusado de recusar grávida que sofreu aborto: "Nada disto é muito curial, independentemente de haver especialidade"
À TSF, o presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal diz que todos os médicos "têm capacidade para perceber se o doente está bem ou se não está bem e, perante isto, decidir o que é que se faz"
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O presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal (SPOMMF), Nuno Clode, considera à TSF que o caso da grávida com aborto espontâneo alegadamente rejeitada pelo Hospital das Caldas da Rainha não pode acontecer e garante que qualquer médico está apto a reconhecer e lidar com uma emergência.
"Nada disto me parece muito curial. Eu acho que, perante uma situação de uma hemorragia abundante, seja ela onde for, compete aos médicos, independentemente da especialidade, perceberem do que é que se passa com o doente, estabilizá-lo e contactar um hospital com uma emergência para transferir o doente e perceber se é preciso fazer transfusões, o que quer que seja. Portanto, não sei o que é que terá acontecido, mas eu acho que uma situação destas, não me parece ser o ideal fechar as portas", afirma Nuno Clode à TSF.
Para o líder da SPOMMF, este caso devia ter sido "avaliado no instante" para se perceber "o que se passa, independentemente de haver ou não uma especialidade para isso".
"[Todos os médicos] têm capacidade para perceber se o doente está bem ou se não está bem e, perante isto, decidir o que é que se faz. Obviamente, se fosse uma hemorragia cataclísmica, implica contactar com o CODU para mandar rapidamente para um hospital. É a mesma coisa que se existisse um acidente grave. Tem de se decidir para onde é que se vai enviar a mulher rapidamente num determinado instante. Às vezes poderemos estar em situações de vida ou de morte", explica Nuno Clode.
O Hospital das Caldas da Rainha recusou atender esta segunda-feira uma grávida que sofreu um aborto espontâneo em casa, denunciaram à TSF os Bombeiros das Caldas da Rainha. A mulher dirigiu-se até à unidade de saúde pelos próprios meios. À chegada, a urgência obstétrica estava fechada e, por isso, num primeiro momento, esta grávida não foi atendida.
Os bombeiros depararam-se "com a senhora dentro do carro, com o feto num saco de plástico, com uma hemorragia abundante, já muito pálida, com muitas dores e muito sofrimento". O CODU "deu indicações para ir para o Hospital de Coimbra, para a Maternidade Dr. Bissaya Barreto", sublinha ainda.
Contactado pela TSF, o hospital desmente que tenha, em algum momento, recusado o atendimento à grávida. O gabinete de comunicação desta unidade de saúde assegura que a mulher nunca se dirigiu ao balcão e que optou por contactar o 112 quando percebeu que a urgência obstétrica estava fechada. Por isso, esclarece ainda, a mulher foi recebida no hospital após o pedido do Centro de Orientação de Doentes Urgentes.
Também contactado pela TSF, o Ministério da Saúde optou por não comentar este caso.