Urgência do Amadora-Sintra nunca recebeu tantos doentes: 881 nas últimas 24 horas

Júlio Lobo Pimentel/Global Imagens (arquivo)
Tempo médio de espera nas urgências do hospital Fernando Fonseca chegava quase às 18 horas esta manhã.
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O hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra) nunca tinha recebido tantos doentes na urgência em apenas um dia: foram assistidas 881 pessoas neste hospital nas últimas 24 horas, quando a média em dezembro (já considerada elevada) é de 681 atendimentos por dia.
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Em resposta à TSF, fonte do hospital adianta que a maioria dos atendimentos diz respeito a infeções respiratórias e que, nesta altura, mais de 55% das pessoas que se encontram à espera de atendimento na urgência têm pulseira verde ou azul da triagem de Manchester, ou seja, não urgentes ou pouco urgentes.
Esta afluência provoca um forte estrangulamento a assistência dos casos verdadeiramente urgentes e que precisam de cuidados rápidos e inadiáveis, lamenta o hospital, levando a um grande tempo de espera para as restantes situações.
A mesma fonte sublinha que um dos principais problemas é o uso indiscriminado da urgência, sem ser feita qualquer triagem pela linha SNS24, revelando que dos 881 atendimentos das últimas 24 horas apenas 79 foram encaminhadas pela linha do Serviço Nacional de Saúde, ou seja, 9%. E na urgência pediátrica apenas nove crianças das 214 atendidas foram encaminhadas pelo SNS24.
O presidente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) alerta que o inverno é um dos principais instigadores desta situação e sublinha que a falta de outro tipo de soluções, leva a que os cidadãos procurem as urgências.
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"As pessoas, não tendo soluções, recorrem diretamente aos hospitais onde sabem que existem médicos e meios complementares de diagnóstico, onde tecnicamente não serão situações de urgência, mas, para as pessoas, são situações que precisam de ser resolvidas e, para cada pessoa que individualmente que aí recorre, são situações de urgência", esclarece.
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"Está-se a assistir neste momento a um pico da gripe A, que irá fazer com que as equipas, que já estão depauperadas, as equipas que já têm de receber os utentes que não têm solução quer nos centros de saúde, quer nos outros hospitais, naturalmente que isso irá fazer com que estes dias sejam dias muitíssimo complicados para os serviços de urgência", acrescenta.
Jorge Roque da Cunha, não fica por isso surpreendido com a situação, sublinhando que o problema está na incapacidade de fixar estes profissionais no SNS.
"A incapacidade do SNS de contratar médicos, que se quer reponham os cerca de 800 médicos que este ano se irão reformar e os cerca de 1100 médicos que nós sabemos que rescindiram com o SNS, criou uma pressão cada vez maior em relação à composição das equipas de urgência por um lado, e que obrigou - um bocado tardiamente, é verdade, - a direção executiva assumir a responsabilidade de dizer quais é que eram as urgências que estão encerradas, aquelas em que se podem recorrer", explica, em declarações à TSF.
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O líder do SIM considera que "as perspetivas" para melhorar o atendimento nas urgências "não são otimistas", até porque o aumento da esperança média de vida faz com que, cada vez mais, cidadãos "mais doentes e com mais problemas" procurem o SNS.
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"A verdade é que se tem assistido a uma degradação na última década e infelizmente se nada for feito de diferente, a melhoria não irá ocorrer com toda a certeza", assegura.
O hospital Fernando Fonseca serve cerca de meio milhão de pessoas de dois concelhos, Amadora e Sintra.
De acordo com os dados do Portal do Serviço Nacional de Saúde, consultados pela agência Lusa, 60 doentes com pulseira amarela (urgente) encontravam-se às 08h30 desta quarta-feira no serviço de urgência geral do hospital Fernando Fonseca, com um tempo médio de espera de 17 horas e 56 minutos, quando o tempo recomendado é de 60 minutos