Hospital de Faro não sabe razões da suspensão de dois médicos e não foi notificado
Diretor clínico do centro hospitalar admite que o hospital fica com "problemas" depois destas suspensões.
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O diretor clínico do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA) não foi notificado e não sabe quais os motivos que levaram à suspensão de dois médicos por parte da ordem. Depois de inicialmente ter dito que não ia fazer declarações sobre o caso, Horácio Guerreiro confessou que o hospital não estava à espera desta decisão.
"Como se sabe, foi o CHUA que promoveu o primeiro inquérito interno e que pediu a intervenção da Ordem dos Médicos (OM), portanto nós estamos interessados é em apurar a verdade, apurar a responsabilidade e agir em conformidade", garante o responsável clínico.
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Horácio Guerreiro diz não saber "exatamente o que é que está subjacente, se é uma situação de prática clínica, se foi encontrada alguma prática menos correta", mas adianta também que "houve uma situação de acesso e de divulgação de dados pessoais" e daí pode ter nascido a "atitude" da OM.
Questionado sobre se os dados pessoais que menciona são referentes à médica Diana Pereira, que apresentou a queixa contra os dois médicos, o diretor clínico confirma que sim: "Exatamente, é outra situação que a OM também poderia avaliar e punir. Poderia e deve avaliar."
Em abril, numa entrevista ao Expresso, Diana Pereira denunciou o que diz ser uma "campanha" de descredibilização por insanidade no hospital de Faro. A médica confirmou ao jornal que teve um "esgotamento ou um burnout, como lhe queiram chamar", mas garante que a sua capacidade médica não ficou afetada. Ainda assim, daí terão nascido a ameaça de a "internar compulsivamente" e a tal "campanha".
Sem notificação forma da suspensão dos dois médicos, o diretor clínico não confirma, para já, se os afastados são o diretor de cirurgia e o orientador de Diana Pereira. "Ouvi dizer que sim", limita-se a dizer.
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Horácio Guerreiro garante que a formação em Cirurgia dos médicos internos não fica em causa, mas admite que o hospital fica com "problemas".
Um dos visados "é um médico sénior, um médico reconhecido pelos pares e com uma boa posição como cirurgião", assume, sublinhando não saber "se efetivamente houve alguma situação clínica que pudesse ter sido menos correta, ou se podia ter a ver apenas com questões de funcionamento dentro do próprio serviço, de direção do próprio serviço e da forma como controlava ou não controlava a atividade".
As denúncias partiram da médica interna Diana Pereira, que acusa os dois médicos de negligência em casos ocorridos entre janeiro e março deste ano, envolvendo 11 doentes, dos quais "três morreram, dois estão internados nos cuidados intermédios" e os restantes tiveram lesão corporal associada a erro médico, "que variam desde a castração acidental, perda de rins ou necessidade de colostomia para o resto da vida".
A suspensão dos médicos é válida de 15 de junho a 14 de dezembro, lê-se num edital do Conselho Disciplinar da Secção Regional do Sul.