Hospital de Penafiel coloca 80 doentes em isolamento contaminados por "bactéria multirresistente"
O infecciologista Rogério Ruas explicou que os doentes estão infetados por uma bactéria conhecida pela sigla KPC, "habitual em ambientes hospitalares"
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O Hospital de Penafiel colocou em isolamento cerca de 80 doentes contaminados por uma bactéria multirresistente, que estão a ser tratados de "forma eficaz", segundo aquela unidade de saúde.
O infecciologista Rogério Ruas, médico naquele hospital do distrito do Porto, explicou esta quinta-feira aos jornalistas que os doentes estão infetados por uma bactéria conhecida pela sigla KPC, "habitual em ambientes hospitalares".
"Temos assistido a um aumento de casos desde o início do ano e neste mês tivemos um surto, chegando aos 80 doentes internados colonizados pela bactéria", afirmou.
Segundo o clínico, dos cerca de 80 casos, "apenas uma pequena porção destes doentes está, de facto, infetada, cerca de 5%".
À TSF, Miguel Vasconcelos, da Ordem dos Enfermeiros da região Norte, explica que se trata de uma bactéria comum nos hospitais, mas não é hábito atingir tais proporções.
"Recebemos um pedido de ajuda ontem, ao final do dia, das colegas que trabalham na unidade local do Tâmega e Sousa face ao aumento exponencial de doentes portadores de KPC positivo. Esta é uma bactéria multirresistente. Dos 450 doentes que estavam internados, 80 doentes estavam positivos. Corresponde a mais ou menos 20% dos doentes, é um número elevadíssimo. Todos os hospitais têm esta bactéria multirresistente, mas estes 20% correspondem a uma taxa elevadíssima e isso é que nos preocupa", explicou Miguel Vasconcelos.
O especialista afirmou que os doentes infetados com a bactéria KPC estão a ser tratados com um antibiótico de largo espectro, dos mais fortes. Esta infeção é tratável, mas pode tornar-se perigosa em idosos, crianças ou pessoas com o sistema imunitário mais debilitado.
"Dá febres altíssimas, traz alterações no próprio sistema do doente. Existe nos hospitais, mais ao nível das fezes, e tem de ser colmatada com antibióticos de terceira geração. Se os doentes fizerem estes antibióticos de longo espectro os tratamentos vão ser eficazes, mas estamos a colocar antibióticos de largo espectro quando podíamos colmatar isto pela proteção e isolamento do próprio doente", acrescentou o responsável da Ordem dos Enfermeiros da região Norte.
A situação foi denunciada pela Ordem dos Enfermeiros, em comunicado, alertando para as dificuldades observadas no hospital devido ao surto, com 20% dos cerca de 450 doentes internados estão contaminados.
Rogério Ruas assinalou que aquela bactéria existe no hospital "como noutros do país".
"É normal, há alguns para cá, os hospitais terem um aumento de casos e depois de diminuição. É cíclico e, neste momento, estamos a ter essa situação".
Anotou, ainda, que se está a usar antibióticos de última linha no tratamento, tratando-se de "um tratamento eficaz".
"Por essa razão é que queremos controlar a disseminação dessas bactérias, que é o que estamos a tentar fazer neste momento", acrescentou.
Um dos procedimentos adotados é que os doentes com fatores de risco são rastreados na admissão no hospital e, explicou, "dependendo se são positivos ou não, já são diretamente alocados à enfermaria de isolamento de contacto".
Questionado sobre as críticas da Ordem dos Enfermeiros, segundo a qual a insuficiência daqueles profissionais, nomeadamente no serviço de urgência, pode ter contribuído para o surto, referiu que no Hospital Padre Américo "a pressão nas urgências é contínua".
"O que implica esta situação é mais uma mudança na forma como alocamos estes doentes. Essa pressão é antiga e não é de agora. Estamos focados nesta situação. Temos estas medidas que continuam a funcionar e continuaremos atentos a monitorizar a situação nos próximos dias", anotou.
