Assembleia da República já recomendou ao Governo a implementação de medidas para combater esta forma de discriminação contra as pessoas mais velhas. A recomendação foi apresentada pelo PAN e aprovada por unanimidade
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A seguir ao racismo e ao sexismo, o idadismo é a terceira forma de discriminação, em especial contra pessoas idosas, com atitudes que agravam a sua saúde física e mental e reduzem a sua qualidade de vida.
Esta é uma situação que está a aumentar em todo o mundo e que já levou a Organização Mundial de Saúde a lançar um apelo por iniciativas que combatam o idadismo. Esta semana, foi publicada em Diário da República uma recomendação ao Governo, por parte da Assembleia da República, para tomar medidas de combate a esta forma de discriminação em Portugal.
No país, já foi criado a associação cívica Stop Idadismo para dar voz às pessoas mais velhas e chamar a atenção para esta forma de discriminação.
O presidente da associação diz que este preconceito “está enraizado no nosso país” e alerta para a importância de percebermos que diz respeito a todos e não apenas às pessoas idosas. “Porque podemos ser discriminados em vários momentos da nossa vida, porque és demasiado novo para aceder a este trabalho, para teres opinião, vulgo, já a formiga tem que catarro, ou porque já és demasiado velho para dares opinião, para inovares, para te adaptares às tecnologias. E sim, está muito enraizado porque está a todos os níveis”, sublinha José Carreira.
Existem muitas formas de idadismo. “Falamos de idadismo internalizado, eu próprio sou idadista, porque acho que já não sou capaz, que já não devo fazer isto ou fazer aquilo, que já não devo pintar o cabelo, que já não devo estudar, que já não devo participar na vida da comunidade. Há o idadismo na família, no grupo de amigos, que é muito comum dizer que já estás velho para isso, ou já queres participar e ainda não tens idade. Há ainda o idadismo nos locais de trabalho, onde é fortíssimo o idadismo institucional, por exemplo, no acesso a cuidados de saúde ou no acesso ao trabalho, se tiveres mais do que 45 anos, és o último a ser contratado e o primeiro a ser despedido”, e nem a comunicação social escapa.
“As pessoas são afastadas, por exemplo, do grande ecrã, e no caso das mulheres a pressão é ainda maior, porque tens uma determinada idade, portanto, a imagem que está estereotipada do que é bonito ou do que é glamouroso é o jovem, porque há um culto da juventude e por isso falamos muitas vezes até da velhofobia ou gerontofobia”, explica.
Para o presidente do Stop Idadismo, este preconceito acaba por ser um contrassenso, tendo em conta que somos um dos países com maior esperança média de vida. “Devíamos estar a festejar, a abrir garrafas de espumante, mas não, vemos sempre como uma carga negativa, como se de um dia para o outro, em função da idade, porque me reformei, sou improdutivo, sou incapaz, sou um peso para a minha família, um peso para a comunidade que tem que pagar reformas, quando, na verdade, não é nada disso”, conta.
José Carreira admite que é muito difícil combater o idadismo porque as barreiras são muitas. “Temos uma grande dificuldade em ver-nos ao espelho e, portanto, este é um assunto que nunca é meu, é algo que ainda é invisível e que é incontestado, ou seja, as pessoas aceitam enquanto que, por exemplo, a primeira forma de discriminação é o racismo, a segunda é o sexismo, a terceira é o idadismo, mas o racismo e o sexismo não são socialmente aceites neste momento, enquanto o idadismo é algo que está normalizado na sociedade, portanto é muito difícil."
E para mudar este paradigma, o presidente do Stop Idadismo defende alterações “ao nível das políticas públicas no que diz respeito à estratégia para a educação e intergeracionalidade”.
Por cá, a Assembleia da República já recomendou ao Governo que tome medidas de combate ao idadismo, como criar um projeto-piloto de promoção de cooperação, interação e partilha intergeracional nos domínios da habitação, da educação e da cultura. A recomendação foi apresentada pelo PAN e aprovada por unanimidade.
