Idosa encontrada morta. Lei que prevê acompanhamento de doentes com Alzheimer "continua desrespeitada"
A Associação Alzheimer Portugal considera que, além da lei, está em causa "o bom senso". Também a Associação dos Administradores Hospitalares diz que "lei é muito clara" e refere vantagens de existir o acompanhamento.
Corpo do artigo
A Associação Alzheimer Portugal considerou esta terça-feira “muito grave” que a lei que prevê o acompanhamento de doentes “continue a ser desrespeitada” e defendeu o investimento numa sinalização específica nos hospitais para os doentes com demência. O alerta surge depois de ter sido encontrada morta, numa mata nas traseiras do Colégio de São José, Lisboa, uma doente do Hospital São Francisco Xavier que estava desaparecida desde dezembro do ano passado.
“É mesmo muito grave que esta lei continue a ser desrespeitada. Este desfecho foi horrível e não foi o primeiro. Já aconteceram outras situações”, sublinhou a presidente da Associação Alzheimer Portugal, Maria do Rosário Zincke dos Reis, em declarações à TSF.
“Se aparece alguém no hospital e há indicação de que essa pessoa tem demência, essa pessoa tem que ter uma identificação social para que dentro do hospital as pessoas saibam que aquela pessoa tem um risco de sair do hospital sem ninguém dar por isso. Além disso, terá certamente dificuldades em explicar o que é que se passa com ela”, acrescentou.
Questionada sobre a possibilidade de existir uma sinalética específica, Maria do Rosário Zincke dos Reis adiantou que há hospitais que já adotaram normas próprias e defendeu que é uma preocupação que deve ter sida em conta.
“Isto é a lei e o bom senso”, atirou.
Contacto pela TSF, o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares, Xavier Barreto, lembrou que “a lei é muito clara” e reiterou que o acompanhamento até pode ajudar os profissionais de saúde.
“É uma grande vantagem ter um acompanhante que possa ajudar a contar a história clínica e ajudar a vigiar o doente nalgumas situações, particularmente no serviço de urgência”, disse.
Xavier Barreto referiu que já foi aberto um inquérito pelo Hospital São Francisco Xavier e explicou que, “eventualmente, segue-se um processo disciplinar se desse inquérito resultar algum indício de responsabilidade”.
“A adoção de procedimentos que evitem situações destas no futuro é muito importante”, concluiu.
Avelina Ferreira, 73 anos, desapareceu a 12 de dezembro do ano passado, depois de ter entrado nas urgências do Hospital São Francisco Xavier.
Avelina Ferreira tinha desaparecido depois de ter entrado sozinha nas urgências do Hospital, uma vez que o marido foi impedido de a acompanhar. O marido esteve sete horas à espera do lado de fora das urgências, até descobrir que Avelina tinha desaparecido sem que ninguém tivesse dado conta.
A família culpou o hospital por ter impedido que o marido acompanhasse Avelina Ferreira no serviço de urgência, tendo sido obrigado a aguardar na sala de espera. Em janeiro lançou uma petição na qual se pedem mecanismos que previnam o desaparecimento de pessoas com demência.