Liberais confrontam esta quarta-feira o primeiro-ministro na Assembleia da República com a manutenção dos acordos de extradição. PS votou contra outros dois projetos de resolução sobre a China no passado, mas IL volta a tentar acenando com posição europeia.
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A Iniciativa Liberal quer que o parlamento recomende ao governo a suspensão imediata do acordo entre Portugal e Hong Kong sobre entrega de infratores e o tratado entre Portugal e China sobre extradição. Para isso, o partido já deu entrada de um projeto de resolução nesse sentido e vai confrontar o próprio primeiro-ministro no debate de preparação do Conselho Europeu.
Em declarações à TSF, o líder parlamentar Rodrigo Saraiva lembra que na agenda do Conselho Europeu vai estar em discussão a relação da União Europeia com a China e que é portanto "natural" que esse seja um dos temas para questionar António Costa, "em específico a manutenção ou não dos acordos de extradição com um Estado que atenta os direitos humanos".
O deputado sublinha que "aquilo que este projeto de resolução pretende é que, de uma vez por todas, Portugal deixe de ser o único país da UE que ainda permanece a ter acordos de extradição com a China e Hong Kong", notando que este já é o terceiro projeto que dá entrada sobre questões de direitos humanos na China e que o Partido Socialista votou contra escudando-se que "a diplomacia portuguesa tinha de estar em linha com a União Europeia".
Nesse sentido, Rodrigo Saraiva lembra que já o último projeto apresentado pelo partido (e, pela lógica, este também) "já vêm posteriormente a uma decisão do Parlamento Europeu que se refere à relação dos países europeus com a China, onde nomeadamente reitera o pedido no sentido dos restantes dez tratados de extradição de Estados-membros serem suspensos".
"Depois disto, [o PS] vai ter de arranjar outra desculpa se quiser continuar a votar contra a manutenção de acordos de extradição com um regime ditatorial que tem tido um crescendo de ataque e atentados aos direitos humanos", nota o líder parlamentar liberal lembrando o caso a perseguição aos uigures, mas também a lei de segurança nacional em Hong Kong e "casos mais recentes como o das esquadras chinesas".
Questionado se a razão para o voto contra poderia ter motivações relacionadas com interesses económicos, Saraiva é claro: "se forem essas as motivações, o PS tem de as assumir". "As razões para um sentido de voto de qualquer partido são legítimas, têm é de ser assumidas. Se essa for a razão e o PS não a assumir, estaremos mais uma vez a ver aquilo que é uma característica do PS de não falar verdade aos portugueses. Se é essa a razão, que assumam. Se a realpolitik se sobrepõe àquilo que são princípios e valores de uma democracia liberal, o PS vai ter de o dizer", conclui o líder da bancada da Iniciativa Liberal na Assembleia da República.