Imigração: discurso político que "instrumentaliza as causas" pode incitar à violência
A eventual relação entre insegurança e imigração feita por Pedro Passos Coelho "confundiu as pessoas", considerou no Fórum TSF o diretor-executivo da Amnistia Internacional em Portugal.
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A forma como a sociedade olha para os imigrantes preocupa o diretor-executivo da Amnistia Internacional em Portugal. Pedro Neto afirmou, em declarações no Fórum TSF, que o discurso político "que instrumentaliza as causas para ganhar votos" pode incitar à violência. É o que "vai fazendo o Chega", considerou, destacando também as palavras de Pedro Passos Coelho: "Não sendo claro, o antigo primeiro-ministro confundiu as pessoas, podendo abrir aqui um campo de ligação direta entre segurança e imigrações."
Pedro Neto assinalou ainda que, pelas informações que tem do caso dos imigrantes agredidos no Porto, nenhum deles tem registo criminal e um dos agressores confessou mesmo ser racista.
Já José Manuel Anes, que faz parte do Conselho Consultivo do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, considerou, também no Fórum TSF, que o discurso político pode contribuir para normalizar o racismo e a xenofobia, salvaguardando que "não existe ligação entre imigração e criminalidade". "Pode haver uma questão residual, mas isso não justifica de maneira nenhuma o olhar de alarme que nós lançamos indevidamente sobre o fenómeno da imigração", acrescentou.
Perante o crescimento da extrema-direita, José Manuel Anes defendeu que tem de haver pedagogia a nível social e educacional para que se evite o receio pelo outro: "Os miúdos têm de aprender que o outro não é o inimigo. Onde é que surge essa questão do receio do outro? Na ignorância: nós desconhecemos o outro, é diferente de nós e, se é diferente, é uma ameaça."
Recordando que "Portugal é um país de emigrantes", o especialista assinalou que os portugueses também foram sujeitos "a alguma discriminação", mas que hoje em dia são respeitados.
