Os ocupantes de um acampamento de sem-abrigo, no jardim da Igreja dos Anjos, em Lisboa, foram identificados pelas autoridades. Ativistas desconfiam das intenções das autoridades.
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A Camara Municipal de Lisboa lançou esta manhã uma ação conjunta com outros organismos para, como diz, "resolver a crescente concentração de pessoas em situação de sem abrigo, no Jardim da Igreja dos Anjos, na freguesia de Arroios".
Em comunicado, a autarquia da capital sublinha que "o objetivo desta ação conjunta é encaminhar e dar resposta a todas as pessoas vulneráveis" que se encontram acampadas no jardim e que são acompanhadas por ativistas pelo direitos dos imigrantes que se opõem à retirada das pessoas sem alternativas de vida.
O sino marca as horas na igreja dos Anjos, as horas que passam lentas ao ritmo da sombra de um jardim transformado em parque de acolhimento de imigrantes, muitos deles à espera dos papeis de legalização. É um condominio de tendas, daqueles que chegaram a Portugal e não tiveram mais do que um trabalho precário.
As barracas servem de abrigo para passar a noite e durante o dia servem para estender a roupa lavada. É este quadro que a Câmara Municipal de Lisboa quer acabar, "contribuindo ao mesmo tempo para o bem-estar dos moradores daquela zona da freguesia de Arroios, cuidando do equipamento urbano, da saúde pública e dos espaços verdes", pode-se ler num comunicado do gabinete de Carlos Moedas.
Este comunicado é contestado pela ativista dos direitos dos imigrantes, Mariana Carneiro: "Eu gostaria muito de perguntar à Câmara Municipal de Lisboa se está consciente da ação, há cerca de um mês e meio, que foi a tentativa de expulsão destas pessoas e de como elas foram ameaçadas e como lhes foi dado menos de 24 horas pelas abandonarem o espaço sem qualquer alternativa. Portanto, nós estaremos atentas e atentos a essas respostas que a própria Câmara Municipal diz estar a procurar. Estamos aqui para dizer não e não. Não pensem que estas pessoas podem ser varridas como lixo e nem pensem que pode haver processos coletivos de expulsão do país. Nós não vamos permitir que isso aconteça!"
Este é o alerta de Mariana Carneiro para quem o que se está a passar esta quinta-feira é um quadro já visto no passado porque "ciclicamente, há tentativas de limpeza".
De acordo com a ativista, "no passado já foram colocados alguns cartazes com a indicação de que o espaço seria reabilitado, essas reabilitações são meras operações de estética para varrer daqui as pessoas imigrantes que alegadamente dão mau aspecto ao espaço".
Ou seja, "não tem havido uma resposta no sentido de arranjar alojamento, de garantir o respeito pelos direitos destas pessoas. O que tem havido é uma simples expulsão. O que desconfiamos no caso dos imigrantes senegaleses e da Gâmbia, é que haja uma tentativa, de expulsão do país," aponta Mariana Carneiro.
Muitas das pessoas da Gambia e do Senegal presentes no jardim do Anjos já viram recusado o pedido de asilo em Portugal.