Incêndio em Odemira já consumiu sete mil hectares e obrigou à evacuação de 20 povoações
Apesar de ser recuperada alguma humidade durante a noite, esta não tem sido "suficiente" para fazer frente ao vento seco que tem soprado nesta área.
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O comandante nacional de Emergência e Proteção Civil, André Fernandes, estimou esta terça-feira que este ano, em Portugal, já arderam perto de 14 mil hectares, sendo que o incêndio em Odemira já dizimou mais sete mil hectares, que levaram à evacuação de 20 povoações.
Destacando que no dia desta terça-feira existem "três ocorrências significativas", André Fernandes afirma, em conferência de imprensa aos jornalistas, que a situação em Odemira "merece maior preocupação". Com um total de 1424 pessoas retiradas das áreas de maior perigo - o que incluiu o parque de campismo de São Miguel -, o incêndio que consumiu, sobretudo, "extensas áreas de pinhal e povoamentos mistos como eucaliptal, sobreiros, medronheiros e matos", tem-se revelado "de difícil" combate.
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As zonas de concentração de apoio à população continuam "operacionais" e a população tem sido acolhida nestes locais por equipas de apoio psicológico e a sua alimentação tem sido garantida.
Os esforços estão agora concentrados nas ações de supressão do incêndio, mas o quadro meteorológico não faz adivinhar o melhor dos cenários. Apesar de ser recuperada alguma humidade durante a noite, esta não tem sido "suficiente" para fazer frente ao vento seco que tem soprado nesta área. O comandante reforça que "as próximas 24h são fundamentais para conseguir estabilizar o incêndio".
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André Fernandes destaca que o pior inimigo ao combate a este fogo tem sido "o relevo bastante acidentando", com "os chamados barrancos", que têm "dificultado a progressão da equipa e potenciam a abertura de novas frentes".
Apesar disso, não há cortes de vias relacionados com incêndios rurais.
"Neste momento, não há nenhum incêndio que tenha cortes de vias, em particular itinerários principais, podendo-se circular livremente no país sem qualquer constrangimento relacionado com incêndios rurais", assegurou o comandante nacional.
Questionado pelos jornalistas sobre os relatos de descoordenação em Odemira, com muitos profissionais à espera de luz verde para avançarem para o teatro de operações, André Fernandes rejeita as afirmações e garante que "a coordenação existe", explicando que as manobras de combate aos incêndios "têm de ser bem estudadas e têm o seu tempo para acontecer". O comandante nacional ressalva, ainda, a "boa convivência entre as várias entidades" e sublinha o sucesso da "salvaguarda da vida humana".
Sobre as queixas da população na demora da ação das aeronaves, André Fernandes justifica com "o cumprimento das regras de viação", defendendo, ainda assim, que estes meios têm sido mobilizados, avançando que têm existido uma média "de dez meios aéreos no teatro de operações" por dia.
As outras duas ocorrências "significativas" referidas pelo comandante dizem respeito a Cinfães e Mangualde (ambos no distrito de Viseu), estando ativos os planos municipais de emergência em Castelo Branco, Proença-a-Nova e Odemira.
Num briefing à comunicação social para um ponto de situação dos incêndios rurais, feito às 13h10, em Carnaxide, concelho de Oeiras, André Fernandes afirma ainda que esta terça-feira "foram dadas como novas ocorrências 38 incêndios, que mobilizaram um total de 674 operacionais, 188 veículos, auxiliados por aeronaves".
Em vigilância ativa estão 15 ocorrências, "que já vêm dos dias anteriores" e que se encontram em fase "de resolução ou conclusão", tendo envolvido "1282 operacionais, 441 meios terrestres e cinco aéreos".
Para dar resposta a todas estas frentes, a Proteção Civil avança que foram destacados "34 grupos de reforço dos corpos de bombeiros - envolvendo 1190 bombeiros -, 12 máquinas de rasto de diferentes entidades, duas brigadas e duas equipas de análise da Proteção Civil, duas companhias de ataque aos fogos da GNR, cinco equipas de posto de comando especializado, o INEM e a Cruz Vermelho no apoio médico, e quatro equipas de bombeiros sapadores florestais". Este reforço corresponde ao esforço de mais 1412 operacionais.
Incêndio em Leiria
A situação em Leiria "está mais calma", sendo que o comandante nacional esclarece que "não há frentes ativas" e, apesar de não haver dados concretos sobre os danos registados, uma vez que as Câmaras Municipais estão incumbidas dessa tarefa, é possível afirmar que "não existem habitações afetadas" pelos fogos.
Sobre a afirmação do vereador da Proteção Civil da Câmara de Leiria, que disse que os fogos na zona da Caranguejeira "não são obra do acaso", André Fernandes adianta apenas que as equipas de investigação "estão no terreno", não podendo avançar, por isso, "as causas" do fogo, assegurando, ainda assim, que o "trabalho está a ser feito".
Balanço geral
Sublinhando que o INEM já realizou 55 assistências, registando apenas 12 feridos ligeiros, que foram transportados para unidades hospitalares, o comandante nacional de Emergência e Proteção Civil destaca que nos próximos dias é esperado "um ligeiro desagravamento no litoral norte".
Ainda, no total já foram deslocados 124 animais das zonas de incêndios, que foram posteriormente acompanhados pelos veterinários municipais.
A Proteção Civil afirma ainda que o alerta laranja vai ser prolongado, uma situação que será acompanhada "todos os dias" com o IPMA. O "pré-posicionamento dos bombeiros" também irá continuar, assim como a formação de "equipas de vigilância", bem como o "estado de prontidão da GNR e agentes da Proteção Civil, que vão manter o reforço".
Questionado sobre o caráter violento destes fogos e sobre se podem ser designados de "incêndios de sexta geração", André Fernandes admite que estes "têm tido muita intensidade" - havendo por isso uma "alteração" do seu comportamento -, e "uma progressão muito rápida", apelando à adoção de comportamentos preventivos por parte da população.
"Nós somos o primeiro agente da proteção civil", ressalva.
O comandante nacional destaca ainda que "114 ignições em 24 horas é um número que não é aceitável".
Sobre o festival MEO Sudoeste, que se realiza na Herdade da Casa Branca, em São Teotónio no Alentejo, nos dias 9 a 13 de agosto, André Fernandes afirma que "não há qualquer afetação dessa área", pelo que existem, à data, "condições de segurança para a realização do festival".
Notícia atualizada às 14h45.
