"Fazer o contraditório não faz sentido". Perito da Comissão responde a Jorge Gomes
Ex-secretário de Estado Jorge Gomes contestou o relatório entregue na AR.
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Um dos peritos da Comissão Técnica Independente que elaborou o relatório sobre os incêndios de outubro diz que não fazia qualquer sentido ouvir o governo. Por isso Paulo Fernandes não aceita a crítica de que falta contraditório no documento entregue na terça-feira no parlamento.
Paulo Fernandes diz que os peritos ouviram quem estava no terreno. Não fazia qualquer sentido ouvir responsáveis políticos no relatório, considera.
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O perito da universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro reafirma o que está no relatório: se houve reforço de meios estes só chegaram quando já era tarde.
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Jorge Gomes, atual deputado socialista e que se demitiu do Governo na sequência dos incêndios de 15 e 16 de outubro, em conferência de imprensa, acusou o ex-segundo comandante operacional (CONAC) da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), o tenente coronel Albino Tavares, de ter transmitido aos elementos da Comissão Técnica Independente informações "falsas".
De acordo com Jorge Gomes, a Comissão Técnica Independente "não fez o contraditório" das posições assumidas pelo tenente-coronel Albino Tavares, que na altura dos fogos de outubro desempenhava as funções de primeiro CONAC em regime de substituição.
"O Estado e o Governo jamais retiraram meios quando são necessários. Nada do que aconteceu foi por falta de meios, tudo o que aconteceu foi porque não havia forma de conter a dimensão [dos fogos]. Arderem dez mil campos de futebol numa hora, era essa a progressão do incêndio e não há meios aéreos e humanos, não há recursos nenhuns que consigam suster incêndios desses", sustentou.
Interrogado sobre se estava a dar a conferência de imprensa a título pessoal, Jorge Gomes respondeu: "Não me estou a defender a mim, porque, para me defender, tenho os meios próprios".
"Mas o Governo não foi ouvido neste contraditório. Esta foi uma decisão minha, porque fui eu quem fiz os despachos" em causa, justificou.
A comissão que analisou os grandes incêndios rurais de 2017 entregou na terça-feira, no parlamento, o relatório dos fogos de outubro, envolvendo oito distritos das regiões Centro e Norte.
O documento, que atualiza para 48 o número de mortos nesse mês, conclui que falhou a capacidade de "previsão e programação" para "minimizar a extensão" do fogo na região Centro (onde ocorreram as mortes), perante as previsões meteorológicas de temperaturas elevadas e vento.
A junção de vários fatores meteorológicos, descreve, constituiu "o maior fenómeno piro-convectivo registado na Europa até ao momento e o maior do mundo em 2017, com uma média de 10 mil hectares ardidos por hora entre as 16:00 do dia 15 de outubro e as 05:00 do dia 16".
Contudo, acrescenta, a Autoridade Nacional de Proteção Civil pediu um reforço de meios para combater estes incêndios devido às condições meteorológicas, mas não obteve "plena autorização a nível superior", e a atuação do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) foi "limitada" por falhas na rede de comunicações.