Incêndios: Liga dos Bombeiros considera razoáveis explicações do secretário de Estado e pede máquinas de rastos
Em declarações à TSF, António Nunes explica que "muitos dos incêndios são controláveis, não pelos meios aéreos, mas pela utilização de máquinas de rastos"
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O presidente da Liga dos Bombeiros, António Nunes, considera que a explicação do secretário de Estado da Proteção Civil sobre as declarações da ministra da Administração Interna são razoáveis e afirma que os meios aéreos são importantes no combate aos incêndios, mas nem sempre são a opção mais eficaz.
"Há aí um fator psicológico. É que, de facto, o aparecimento do meio aéreo dá uma tranquilidade às populações. E não só às populações, também aos senhores autarcas. Muitas das vezes os meios aéreos que estão a ser empenhados num determinado teatro de operações têm uma eficácia baixa ou mesmo nula, mas dá essa tranquilidade e isso também é importante", disse António Nunes em declarações à TSF.
A ministra da Administração Interna defendeu esta terça-feira que é irrelevante o número de meios aéreos de combate a incêndios, uma vez que o que está a causar "dificuldade aos operacionais" nos fogos em curso são as características do terreno. Considerando que Maria Lúcia Amaral, foi mal-interpretada, o secretário de Estado da Proteção Civil, Rui Rocha, reiterou que a eficácia destes depende das características dos fogos em curso.
O presidente da Liga dos Bombeiros explica como se deve utilizar as aeronaves: "Do ponto de vista do combate ao incêndio florestal e é a posição que nós nos estamos a colocar, eu tenho diversos tipos de meios aéreos, desde logo, helicópteros ligeiros, helicópteros pesados, aviões com maior e menor capacidade e com isso, maior ou menor manobrabilidade e, portanto, eu tenho que utilizar os meios aéreos de acordo com a orografia, com o desenvolvimento do incêndio, com as condições meteorológicas. Muitas vezes não conseguimos utilizar os meios aéreos porque o fumo produzido pelo próprio incêndio não nos permite utilizar, as neblinas matinais. Portanto, há aqui um conjunto de fatores."
Mais do que as aeronaves, António Nunes diz que o papel dos bombeiros é o mais importante e pede investimento em viaturas terrestres, nomeadamente as máquinas de rastos.
"Num combate ao incêndio florestal, o decisivo são os bombeiros, são as viaturas de combate a incêndio e até, a nossa opinião e aqui é uma opinião até um pouco mais pessoal, todos nós nos preocupamos com o número de meios aéreos e poucos nos preocupamos com o número de máquinas de rastos. Muitos dos incêndios são controláveis, não pelos meios aéreos, mas pela utilização de máquinas de rastos", considera.
E justifica: "Numa primeira fase, os meios aéreos são fundamentais, em particular, na primeira intervenção, são fundamentais para, numa articulação permanente terra-ar, conseguir encontrar formas de penetração nas frentes de fogo para se debelar as chamas. E as máquinas de rastos são fundamentais não só para abrir aceiros, caminhos, desimpedir, permitir que os bombeiros cheguem a essas frentes de fogo, mas também garantir umas faixas de separação entre aquilo que ardeu e aquilo que não ardeu."
Ainda sobre as aeronaves, António Nunes refere ainda que é impossível que estejam em permanência no ar a combater incêndios.
"O meio aéreo não funciona 24 horas sobre 24 horas. O meio aéreo funciona de acordo com a sua disponibilidade de combustível ou de contrato. Se nós contratarmos meios aéreos de nascer ao pôr do sol e se contratarmos em permanência os 72 meios aéreos no ar naturalmente, que do nascer ao pôr do sol não chegam 72 meios aéreos, porque, ao final de uma hora e meia ou duas horas, o meio aéreo tem que parar para fazer reabastecimentos, revisões nalguns casos e temos de contar que muitos deles podem ter uma avaria", esclarece.
O presidente da Liga dos Bomebeiros dá um exemplo recente: "Ainda agora há um em Arcos de Valdevez que teve um ligeiro incidente sem causas maiores, mas teve e está inoperacional. Portanto, nós temos que contar com isso. O problema de termos em permanência 72 meios aéreos no ar tem custos de tal forma significativos que porventura uma análise custo-beneficio não é possível fazer."