"Incompreensível." Antiga PSA Mangualde dispensa precários e recorre a mão de obra estrangeira
Catarina Martins esteve reunida com a comissão de trabalhadores da fábrica, localizada no distrito de Viseu.
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A Stellantins Mangualde, antiga Peugeot Citroën, dispensou desde as férias de verão mais de 60 funcionários com contratos precários e está agora a recorrer a trabalhadores de outras empresas do grupo na Europa para assegurar a produção de automóveis.
O número de operários dispensados foi avançado esta tarde pelo coordenador da comissão de trabalhadores, António Silva, após uma reunião com a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins.
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"Infelizmente, o problema é que a lei permite [esses despedimentos]. Mesmo a vinda dos nossos colegas polacos é algo que é permitido através das normas da União Europeia, agora em termos morais é muito mau", declarou aos jornalistas.
António Silva lamentou ainda que a não renovação de contratos esteja a prejudicar quem fica na ex-PSA e denunciou pressões sobre funcionários para fazerem horas extraordinárias.
"Já tivemos relatos de alguns trabalhadores a dizer: neguei-me a ir para o turno da noite, ficar mais horas a cumprir o lugar de colegas, e disseram-me ou fico ou vou para o turno da noite definitivamente. Não entendemos, não tem lógica nenhuma", sustentou.
A comissão de trabalhadores da fábrica automóvel de Mangualde já fez queixa à administração e aproveitou a passagem de Catarina Martins para fazer o mesmo. A líder do BE considerou "incompreensível" tudo o que ouviu.
"A PSA (atualmente Stellantins) teve apoios públicos nacionais e europeus para que houvesse emprego no interior, agora não podemos achar é que quando a empresa tem resultados tão bons possa estar pura e simplesmente a mandar para o olho da rua os trabalhadores mais jovens, penalizando os outros que vão ficando, retirando qualquer horizonte de futuro no emprego em Mangualde", disse.
A líder bloquista prometeu não ficar parada e anunciou que vai pedir a intervenção do Governo.
"Nada disto parece regular, a Autoridade Para As Condições do Trabalho (ACT) ainda não atuou e, portanto, o que posso garantir é que o BE vai atuar junto do Ministério do Trabalho e ACT para saber como é que é possível esta situação", adiantou.
A administração do Centro de Mangualde da Stellantis reagiu por escrito à TSF. Em comunicado, explicou que o "empréstimo de colaboradores entre fábricas é uma situação recorrente" no grupo automóvel e garantiu que "muitos colaboradores de Mangualde também já têm realizado missões noutras fábricas".
Na empresa estão agora 50 colaboradores de outras fábricas da Europa. A Stellantis assegurou não estar a "substituir colaboradores efetivos" e realçou que esta mão de obra estrangeira vem "reforçar a produção em Mangualde, que felizmente, nos últimos tempos, tem sido menos afetada pela crise" do setor automóvel.