"Inconcebível." Autarcas e população sem informação "é tudo o que não se deve fazer"
Presidente da Câmara de Boticas questiona a medida do Governo que impede os autarcas de receberem informações pormenorizadas sobre os seus concelhos. Autarca de Mafra esteve quatro dias sem dados.
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Fernando Queiroga, presidente da Câmara de Boticas, considera "inconcebível" a medida do Governo que impede os delegados de Saúde de disponibilizarem informação diária sobre a evolução da Covid-19 aos autarcas.
"Isto é o que não se deve fazer precisamente. Esta norma e orientação e ordem da senhora ministra é tudo o que não se deve fazer numa situação destas", insiste o autarca, em declarações à TSF, revelando que este é o momento em que todos "devemos ser objetivos, frontais e esclarecedores com a nossa população".
O presidente da câmara recorda que a situação que se vive devido à pandemia de Covid-19 deixa as pessoas "assustadas e ansiosas", sentimentos que aumentam com a falta de informação. "
"O que esta por detrás disto? E não me digam que é para consertar números que eu nisso não acredito porque os números que o ACES nos envia também são enviados para a DGS. Há falta de material, falta disto, falta daquilo, ninguém estava a contar com isto, vamos tentar colmatar isto, agora sonegar informação não é correto", reitera Fernando Queiroga.
Dados permitem "agir de forma imediata"
O presidente da Câmara de Vila Real , Rui Santos, avisa que sem dados é difícil salvar vidas. "Seria muito importante ter acesso a todos os dados de forma imediata, aliás não percebo porque é que isso não acontece, porque há sempre um delay entre dados que sabemos que existem e o que é publicado na página da DGS", alerta o autarca socialista.
Rui Santos lembra que a falta de dados é um "problema para as populações porque impede que possamos agir de forma imediata" e sublinha que é difícil manter contacto com a Administração Regional De Saúde Do Norte (ARSN). "À medida que os dias passam há maiores dificuldades, não sei se há uma circular interna oficial ou se há essa orientação transmiteida pela ARSN, sei que é assim que está a funcionar. ARSN não fala com rigorosamente ninguém", aponta.
Mafra já viveu "lei da rolha", foram "dias de desnorte"
O presidente da Câmara de Mafra, Hélder de Sousa Silva, recorda que já viveu na pele a "lei da rolha" durante esta pandemia, o que considera uma tentativa de "boicote". "Faz hoje oito dias tive exatamente a mesma lei da rolha em que recebi um e-mail da delegada de saúde que tinha sido proibida de me dar dados", lembra em declarações à TSF.
O autarca revela que foram "quatro dias sem dados", "dias de desnorte em que não sabíamos onde exercer o esforço". Nessa altura, a delegada de saúde sublinhou que se tratava de um parecer jurídico que proibia o envio de dados para autarcas.
Hélder de Sousa Silva conta que enviou uma carta à ministra da Saúde e à diretora-geral da Saúde, por acreditar que "um presidente de câmara tem a obrigação de ter, e é um direito que lhe assiste, diariamente os dados para poder decidir".
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O presidente da Câmara de Espinho, Joaquim Pinto Moreira, tem uma posição idêntica e acusa o Governo de estar a impor uma "verdadeira lei da rolha", para "tentar amordaçar os autarcas, escondendo a realidade do que se passa no país e em cada um dos municípios".
O autarca sublinha que é "o responsável máximo da Proteção Civil" no concelho e, como tal, precisa de ter "os dados concretos em cima da mesa para tomar, em cada momento, as decisões que são mais adequadas".
Com a decisão do Governo, os delegados regionais de saúde ficam impedidos de informar os autarcas sobre o alastrar da epidemia nos seus concelhos. Os presidentes de câmara passam, assim, a receber os mesmos dados que são enviados uma vez por dia, por volta das 12h00, à comunicação social.
* com Cristina Lai Men e Ana Sofia Freitas