Idosa de 83 esteve mais de uma hora na rua, em Campolide, à espera da ambulância. Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar alerta que os atrasos no socorro são diárias e avança com denúncia ao Ministério Público.
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O INEM anunciou este sábado que abriu um processo de inquérito para apurar as circunstâncias que motivaram o atraso na assistência pré-hospitalar a uma mulher em Lisboa, que esteve mais de uma hora na rua à espera de uma ambulância, acabando por morrer no hospital. De acordo com o noticiado pelo Jornal de Notícias, a mulher de 83 anos caiu num passeio em Campolide, na passada segunda-feira, e esperou cerca de hora e meia pelo INEM, que não tinha ambulâncias disponíveis.
"O Instituto Nacional de Emergência Médica lamenta profundamente o desfecho que a situação ocorrida no passado dia 18 de julho, em Campolide, veio a conhecer. O INEM já determinou a abertura de um processo de inquérito para apurar em pormenor todas as circunstâncias que motivaram o atraso na assistência pré-hospitalar a esta utente", refere o INEM, em comunicado.
Em declarações à TSF, o presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar afirma que este caso vem pôr a nu as denúncias que têm vindo a ser feitas ao longo dos tempos. "Para isto concorrem dois fatores: a enorme escassez de técnicos de emergência hospitalar, que tem como consequência direta o encerramento de ambulâncias, e também os fluxos de triagem do INEM que estão desadequados", diz Rui Lázaro.
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O responsável relata também que, nas últimas semanas, o sindicato tem recebido denúncias praticamente diárias sobre atrasos no socorro em várias zonas.
"As denúncias que temos acontecem de uma forma diária. Isto acontece diariamente, só não tem vindo é a público", disse, adiantando que o sindicato está a preparar uma denúncia ao Ministério Público "para que possa obrigrar o Governo e o INEM a tomar medidas".
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Em reação ao sucedido, a Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica (ANTEM) considerou "intolerável" que alguém fique na rua uma hora e 15 minutos à espera de uma ambulância do INEM, defendendo que devem ser investigados os serviços médicos de emergência.
"É intolerável que alguém fique deitado no chão durante 1 hora e 15 minutos sem qualquer cuidado de emergência médica, violando todas as boas práticas. É intolerável que estes eventos adversos sejam constantes e, que não sejam assacadas qualquer tipo de responsabilidades", refere a ANTEM, em comunicado.
Esta associação sublinha que o caso da "senhora que esteve 1 hora e 15 minutos estendida no chão a aguardar por uma ambulância na cidade de Lisboa" não é o único, sendo uma situação que ocorre "repetidamente".
"Indisponibilidade momentânea de meios no sistema é uma situação pontual"
Num esclarecimento sobre atraso na assistência a esta utente, o INEM sustenta que "continua a registar um aumento muito acentuado da sua atividade".
Segundo aquele instituto, na segunda-feira, dia em que a mulher ficou à espera de ambulância, foram recebidas 4.715 chamadas de emergência no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM, mais 952 chamadas que em igual período de 2021.
"Concretamente em relação à cidade de Lisboa, nos primeiros seis meses de 2022 há registo de 48.410 ocorrências, um acréscimo de 23% comparativamente a 2021", precisa o INEM.
O Instituto Nacional de Emergência Médica sublinha que "a indisponibilidade momentânea de meios no sistema é uma situação pontual, alheia à vontade de todos os intervenientes".
No caso em concreto da situação de Lisboa, o INEM refere que juntamente com os parceiros do sistema "não se pouparam a esforços para concretizar o envio de uma ambulância o mais rapidamente possível, não conseguindo, infelizmente, fazê-lo num menor espaço de tempo".
O INEM indica ainda que "todas as ambulâncias do INEM e dos parceiros do sistema que foram contactadas, num total de 29 entidades, estavam ocupadas noutras missões de emergência a decorrer em simultâneo", tendo sido acionada a ambulância que "mais rapidamente ficou disponível".
De acordo com o INEM, o Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM) é um sistema complementar, e é constituído não só pelos meios próprios do INEM, mas também pelos meios dos parceiros bombeiros e Cruz Vermelha Portuguesa, tendo, desde o início de junho, reforçado o dispositivo de meios para o verão, operados pelos parceiros do INEM, com um acréscimo de 23 meios no país, com mais quatro ambulâncias a reforçar a área metropolitana de Lisboa.