Infarmed rejeita associação entre uso de paracetamol por grávidas e autismo feita por Trump
À TSF, a diretora de farmaco-vigilância do Infarmed, Márcia Silva, assegura mesmo que "não há nenhum novo risco associado" ao uso deste medicamento durante a gravidez. "Quando surgem questões, a preocupação é transmitir o último conhecimento científico, para deixar as pessoas descansadas com base em evidências", diz
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O Infarmed esclareceu esta terça-feira que não existe relação entre o uso de paracetamol por grávidas e malformações no feto ou nos recém-nascidos, depois de o Presidente norte-americano ter sugerido uma ligação entre este analgésico e o aumento do autismo.
Na quinta-feira, Donald Trump sugeriu, sem apresentar provas científicas, que o aumento do autismo no país pode ter como causa o uso do analgésico paracetamol em grávidas e a vacinação.
Ladeado por Robert F. Kennedy Jr., secretário da Saúde e um dos rostos do movimento antivacinas no país, Trump sugeriu a imposição de limites ao uso de paracetamol - mais conhecido nos Estados Unidos pela marca Tylenol - durante a gravidez, citando o medicamento como uma possível causa do autismo, apesar de esta ligação causal ter sido investigada e não estar comprovada.
Esta terça-feira, a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) informou que o uso de paracetamol durante a gravidez se mantém inalterado, insistindo na falta de evidências que justifiquem mudanças nas recomendações relativas ao uso daquele analgésico na União Europeia.
Diz que, em 2019, a Agência Europeia do Medicamento (EMA) reviu os estudos disponíveis que investigaram o neurodesenvolvimento de crianças expostas ao paracetamol ‘in utero’, concluindo que “os resultados eram inconclusivos” e que “não foi possível estabelecer uma ligação com perturbações do neurodesenvolvimento”.
“Uma grande quantidade de dados provenientes de mulheres grávidas que utilizaram este medicamento durante a gestação indica que não existe risco de malformações no feto em desenvolvimento nem nos recém-nascidos”, refere.
Em declarações à TSF, a diretora de farmaco-vigilância do Infarmed, Márcia Silva, assegura mesmo que "não há nenhum novo risco associado" ao uso deste medicamento durante a gravidez e adianta que as conclusões expostas pelo chefe de Estado norte-americano já tinham sido avaliadas na EMA.
"Verificaram-se todos os dados disponíveis que existiam até essa data e permitiu-se concluir que não existe evidência que permita estabelecer qualquer relação entre a toma do paracetamol durante a gravidez e autismo ou questões do neurodesenvolvimento em crianças", insiste.
Sublinha ainda que, quando necessário, o paracetamol pode ser utilizado durante a gravidez e explica que, "tal como acontece com qualquer medicamento para tratamento agudo, deve ser usado na menor dose eficaz, pelo período mais curto possível e com a menor frequência necessária".
Márcia Silva esclarece que, qualquer problema que surja, é "transmitido prontamente ao público".
"Quando começam a surgir estas questões, a nossa preocupação é sempre transmitir qual é o último e melhor conhecimento científico que temos, no sentido também de deixar as pessoas descansadas e bem informadas com base em evidências científicas", destaca.
A EMA e as autoridades nacionais competentes na UE “continuarão a monitorizar a segurança dos medicamentos que contêm paracetamol e a avaliar rapidamente quaisquer novos dados que surjam”, refere a nota, acrescentando que serão tomadas medidas regulamentares “sempre que se justifique”, de forma a proteger a saúde pública.
Na segunda-feira, Trump disse que o paracetamol está "possivelmente associado a um risco muito maior de autismo" aconselhando as mulheres a não o tomarem durante a gravidez, mas não apresentou qualquer prova científica. Em alternativa, apresentou rumores de que "praticamente não há autismo" em Cuba porque o país não tem condições para comprar Tylenol, a marca mais popular de paracetamol.
Os especialistas têm afirmado que o aumento de casos nos Estados Unidos se deve sobretudo a uma nova definição para a perturbação, que passa a incluir casos ligeiros num "espetro" e diagnósticos mais precisos, e que não existe uma causa única.
