Vacina russa pode ajudar a combater escassez na Europa, defende infecciologista

TSF/AFP
No Parlamento, António Silva Graça defendeu que a Sputnik V devia ser alvo de uma avaliação por parte da Agência Europeia do Medicamento.
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O médico infecciologista António Silva Graça defendeu que a Sputnik V pode ajudar a combater a escassez de vacinas na Europa. Ouvido na Comissão Eventual de Acompanhamento da Pandemia, o médico considerou que a vacina russa está a mostrar-se eficaz.
"Existem outras vacinas que até estão neste momento aparentemente a demonstrar a sua eficácia protetora. Vou dar o exemplo da Sputnik V. Esta vacina poderia naturalmente ser útil à União Europeia, mas para isso era necessário que a Agência Europeia do Medicamento a pudesse avaliar. E é isto que falta", disse aos deputados António Silva Graça.
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Nesta quarta-feira, a Jonhson & Johnson pediu ao regulador europeu a autorização para o uso de emergência da vacina contra a Covid-19. Atualmente, já foram autorizadas apenas três: a vacina da Pfizer, Moderna e Astrazeneca.
Há vários países europeus que, de uma forma autónoma à União Europeia, já receberam doses da vacina russa, como é o caso da Hungria.
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A Sputnik V foi registada na Rússia em agosto de 2020 e tem uma eficácia de 91,6%, de acordo com análises provisórias de ensaios clínicos de fase III publicadas este mês na revista The Lancet.
Na audição parlamentar, António Silva Graça defendeu ainda que, relativamente ao plano nacional de vacinação, deveriam ter sido incluídos na primeira fase que está a decorrer outros grupos prioritários, apontando o caso dos professores, se houvesse o número de vacinas adequado para isso.
"Para ajudar a manutenção das atividades letivas presenciais, deveria ter sido pensado que os agentes de ensino -- professores e educadores de infância -- deveriam também ser melhor protegidos, não porque eles tivessem um maior risco nas suas atividades, mas porque sabemos que o risco maior é a introdução das infeções nas escolas", salientou.
Segundo disse, a sua vacinação seria uma "forma de proteger a atividade letiva presencial, não só dando confiança às pessoas que se mantêm a trabalhar, mas também como forma indireta de proteger as crianças, porque não haverá tão cedo uma vacina para elas".
Relativamente ao desconfinamento, Silva Graça avançou que a estratégia tem de passar por "duas vias de atuação que são complementares e têm o mesmo objetivo de controlo da pandemia": a identificação de casos positivos com o rastreamento dos seus contactos e a vacinação contra a covid-19.
Para o médico patologista Germano de Sousa, também ouvido hoje na comissão parlamentar, a maneira "mais inteligente" para o controlo da pandemia passa por uma testagem de despiste da covid-19 acompanhada de um rigoroso rastreamento epidemiológico.
"A ideia é testar, testar, testar, mas logo a seguir os resultados estarem na mão das equipas de saúde pública e de medicina geral e familiar para, no mesmo dia, começarem a inquirir os positivos e, no dia seguinte, a localizar todos os contactos de alto, médio e baixo risco", afirmou o antigo bastonário da Ordem dos Médicos.
Segundo disse, esta estratégia de quebrar as cadeias de transmissão "não aconteceu em janeiro", quando Portugal atingiu o máximo de infeções de SARS-CoV-2, uma vez que era "impossível pensar sequer seguir 70 mil positivos, com taxas de positividade de 25%".
O administrador e fundador do Grupo Germano de Sousa alertou ainda que os profissionais de saúde não estão todos vacinados, caso dos que "trabalham todos os dias no olho do furacão" nos laboratórios e nos hospitais privados.
"Não culpo a `task force´ [do plano de vacinação], nem sequer a Direção-Geral de Saúde", referiu Germano de Sousa, que atribuiu essa situação à falta de vacinas em Portugal.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.408.243 mortos no mundo, resultantes de mais de 109 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 15.522 pessoas dos 788.561 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.