Iniciativa Liberal 4.0: o que une e separa os três candidatos?
Os liberais vão eleger o quarto líder do partido em apenas seis anos. João Cotrim de Figueiredo deixa a liderança.
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Da atual Comissão Executiva da Iniciativa Liberal (IL) saem dois candidatos à sucessão de João Cotrim de Figueiredo: Rui Rocha e Carla Castro. Se Rui Rocha é visto como o candidato da continuidade, já que tem o apoio de grande parte da atual direção, Carla Castro apresenta-se como a líder que rompe com a atual estrutura. No entanto, quando se pensava que a corrida eleitoral seria a dois, o conselheiro José Cardoso apresentou a candidatura "para fazer a diferença".
A ambição dos três candidatos é elevar o eleitorado da IL, passando das redes sociais para uma política de proximidade, junto dos cidadãos, rompendo com os grandes círculos urbanos onde os liberais captam grande parte dos votos.
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Carla Castro defende até, na moção de estratégia global, que o partido não pode esquecer "os que vivem no interior e se sentem abandonados, as pessoas de baixos rendimentos que não veem um futuro melhor apesar do seu esforço diário".
Para uma política de proximidade, Rui Rocha promete manifestações de rua, "sempre que for politicamente oportuno", e o pontapé de saída pode estar para breve em oposição à revisão constitucional que "o bloco central prepara".
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Rui Rocha é contra "confinamentos administrativos", como aconteceu durante a pandemia, e considera que são "violações graves das liberdades individuais". O candidato quer mesmo "liderar o combate aos confinamentos", que PS e PSD admitem inscrever na Constituição sem acionar o estado de emergência.
O deputado eleito por Braga entende, ainda assim, que o partido deve fortalecer-se nas redes sociais, prometendo reativar a comunicação via WhatsApp e criar uma página no TikTok. Ora, Carla Castro já fez saber que os liberais são mais do que WhatsApp ou TikTok, numa crítica direta ao adversário e defende que o partido deve dar o salto para o Governo.
O mesmo defende José Cardoso, já que na moção que leva a votos a 21 e 22 de janeiro, defende que os liberais devem "assumir uma postura de partido de governo e não de protesto".
Objetivos eleitorais: eleger em todos os parlamentos
Para um mandato de dois anos, até 2024, o novo líder da IL vai ser colocado à prova em três eleições: Madeira (2023), Açores (2024) e Europa (2024). O objetivo dos candidatos é comum e prometem eleger (pelo menos) um deputado em cada parlamento e elevar a representação liberal.
José Cardoso promete "trabalhar para eleger de forma sustentável, crescendo em votação e elegendo em todas as três eleições", embora não defina valores concretos.
Para Rui Rocha, o objetivo para a Madeira, onde o partido ainda não tem representação, é a eleição de dois deputados regionais. Nos Açores, a ideia é idêntica: garantir o "primeiro grupo parlamentar liberal da região", com a eleição de dois deputados.
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Nas Europeias de 2024, o objetivo mínimo é a eleição de um eurodeputado, mas com "uma grande campanha, ideias consolidadas e candidatos mediaticamente fortes, a Iniciativa Liberal tem a ambição de eleger dois eurodeputados".
Tal como José Cardoso, Carla Castro opta por não se comprometer com objetivos exatos, escreve apenas que quer eleger "deputados na Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira" e, nos Açores, e, nos Açores, a meta é "multiplicar a representação".
Nas europeias, o objetivo de Carla Castro é eleger "pelo menos um eurodeputado".
Legislativas antecipadas? "Terceira força" ou "15 por cento dos votos" em 2026
Rui Rocha admite que, na sua opinião, o Governo socialista não vai chegar até ao final da legislatura. Assume "estar preparado" caso António Costa caia antes do final do mandato, mas, se as eleições forem em 2026 promete elevar o partido para fasquia dos 15 por cento de votos.
Nas últimas legislativas, há um ano, os liberais arrecadaram 4,91 por cento dos votos, o que correspondeu a oito deputados eleitos e representou o quarto lugar na tabela dos maiores partidos nacionais.
Carla Castro admite, ainda assim, que o partido tem condições para se afirmar "como a terceira força política nacional", lugar que pertence ao Chega.
Linha vermelha ao Chega
Tanto Carla Castro como Rui Rocha já colocaram uma barreira ao Chega, para um possível acordo pós-eleitoral, com o deputado a inscrever na moção que é contra uma coligação com o partido de André Ventura.
Rui Rocha escreve que os liberais e "rejeitam populismos, afastam-se dos extremos e recusamos a instrumentalização do medo e da frustração para obter ganhos políticos".
Já Carla Castro, apesar de admitir que quer abrir o partido "a várias tendências liberais", promete "afirmar a defesa da democracia, da liberdade e dos direitos humanos" numa resposta a quem a acusa de encostar a IL à direita conservadora.
José Cardoso escreve apenas que o partido deve "zelar pela defesa dos direitos humanos na política portuguesa".
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Deputados propõem redução das quotas
Se Rui Rocha apresenta uma moção com várias propostas a pensar no futuro do país, Carla Castro centra o documento no partido, para uma "gestão participativa e descentralizada". Desde logo, com a promessa de terminar com a inerência da Comissão Executiva no Conselho Nacional, deixando de ter poder de voto.
Também José Cardoso quer "convocar uma Convenção Estatutária no 2º trimestre de 2023 para dar um cunho mais liberal aos Estatutos", propondo "o fim do direito a voto da Comissão Executiva no Conselho Nacional".
Além disso, Carla Castro propõe a redução das quotas para 30 euros anuais, ao contrário dos 60 euros atuais. E, para os jovens e estudantes, propõe "a revisão dos valores em baixa da quotização" para 15 euros.
A descida da quotização é acompanha por Rui Rocha, embora proponha apenas uma redução para os 40 euros, mas com um aumento da percentagem das quotas entregues aos núcleos de 33 por cento para 66 por cento.
Já José Cardoso quer atribuir aos núcleos "cem por cento das quotas dos membros com base no novo plano de autonomia", não propondo uma redução do preço a pagar pelos membros.
Ao longo das várias páginas das moções dos candidatos, tanto Rui Rocha como Carla Castro fazem várias referências à governação socialista. De José Cardoso, existe apenas uma: candidato defende que o partido "deve estar focado nos cidadãos e não no PS como até agora".
