Internamentos sociais aumentam 8%: administradores hospitalares assumem "preocupação" com "fenómeno que tem vindo a crescer"
Os internamentos sociais representaram, em março deste ano, 11,7% do total de internamentos nos hospitais públicos, com um custo estimado anual para o Estado que pode ultrapassar os 288 milhões de euros, mais 28 milhões do que no barómetro anterior
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Um total de 2342 pessoas continuavam internadas em março nos hospitais públicos após receberem alta clínica, representando mais 8% de internamentos sociais do que no mesmo mês de 2024, indica um estudo divulgado esta quarta-feira.
Os dados constam da nona edição do Barómetro de Internamentos Sociais (BIS), uma iniciativa da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), que conclui que, em comparação com março de 2024, verificaram-se mais 178 casos de pessoas em situação de internamento inapropriado.
Apesar de o número de camas ocupadas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) por estas situações ter aumentado 8%, o tempo médio dos internamentos diminuiu 10%, mas ainda está em cerca de cinco meses, revela o estudo realizado em parceria com a EY Portugal e com o apoio institucional da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e da Associação dos Profissionais de Serviço Social.
Os internamentos inapropriados referem-se aos dias que um doente passa no hospital após receber alta clínica e quando não existe um motivo de saúde que justifique a sua hospitalização.
Em declarações à TSF, o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares traça o perfil das pessoas que permanecem internadas após terem recebido alta clínica: a maioria, diz, são pessoas idosas com mais de 65 anos, que vão perdendo "mobilidade e autonomia". A falta de um "apoio social", que pode ser motivada pela ausência de uma "retaguarda" ou de uma vaga num lar da Segurança Social ou até da inexistência de respostas nos cuidados continuados, obriga-os a ficarem a cargo do hospital.
"Infelizmente tem sido um fenómeno que tem vindo a crescer e que nos preocupa muito", confessa.
Xavier Barreto explica ainda que só ao fim de alguns meses é que costuma ser possível encontrar uma solução junto de estruturas residenciais ou até mesmo na rede de cuidados continuados. Mas, em alguns casos, os próprios pacientes conseguem "readquirir autonomia para regressar ao seu domicílio". Há também a possibilidade de a família conseguir "reorganizar-se" para receber o dente em casa.
Mas, para quem não tem esta sorte, o futuro pode adivinhar-se mais complicado: quando a estadia é prolongada, o risco de contrair uma infeção hospitalar aumenta, pelo que estas pessoas muitas vezes acabam por morrer no próprio hospital.
Os dados do BIS revelam também um total de 367.498 dias de internamentos inapropriados, uma redução ligeira de 3% face ao estudo anterior, mas que reflete o “efeito significativo deste fenómeno” no prolongamento da ocupação das camas hospitalares e a elevada espera para admissão em unidades de cuidados continuados integrados e em lares de idosos.
A falta de resposta da rede de cuidados continuados integrados mantém-se como o principal motivo do número de internamentos sociais (38%), sendo mais evidente no Centro, no Alentejo e no Algarve, seguindo-se a falta de lares de idosos (29%), que tem maior impacto em Lisboa e Vale do Tejo.
De acordo com as conclusões, os internamentos sociais representaram, em março deste ano, 11,7% do total de internamentos nos hospitais públicos, com um custo estimado anual para o Estado que pode ultrapassar os 288 milhões de euros, mais 28 milhões do que no barómetro anterior.
Só em março deste ano, os custos ultrapassavam os 94 milhões de euros para o Estado, bem acima dos 68 milhões de euros do mesmo mês de 2024, alerta ainda o barómetro, que contou com a participação de 41 hospitais públicos, num total de mais de 21 mil camas, representando 96% do total da capacidade do SNS.
“É urgente reforçar a resposta da Rede Nacional de Cuidados Continuados e das Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas, através de soluções articuladas entre entidades no setor da Saúde, da Segurança Social e do setor social. Mas é também importante reforçar a capacitação das famílias, incluindo com a valorização do papel do cuidador informal”, salientou o presidente da APAH, Xavier Barreto, citado em comunicado.
O barómetro salienta que as instituições possuem “algumas alternativas aos internamentos sociais”, sendo que, no âmbito de uma portaria de 2023, foi possível dar resposta a cerca de mil doentes.
No âmbito desta portaria, os casos sociais que permanecem internados nos hospitais depois de terem alta poderão ser encaminhados para equipamentos públicos, privados ou da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Os resultados da nona edição do barómetro vão ser apresentados esta quarta-feira, numa sessão que vai decorrer no Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra).