Incidente num voo para Marrocos levantou investigação que critica fortemente empresa contratada pela TAP para viagens curtas e regulador da aviação em Portugal.
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O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) encontrou falhas "relevantes" e "sistémicas" na gestão de segurança da frota de aviões ATR-72 que voam ao serviço da TAP, mas são operados por outra empresa.
Os problemas foram detetados numa investigação a um incidente que aconteceu em julho de 2019 num voo Lisboa-Fez (Marrocos) com 58 passageiros a bordo.
O avião tinha uma copiloto em formação aos comandos e acabou, depois de embater com a parte inferior da cauda na pista, por regressar a Lisboa sem todas as condições para voar.
Os aviões ATR-72 da TAP Express, usados por exemplo na chamada ponte aérea entre Lisboa e Porto, são operados pela White Airways, uma empresa que é fortemente criticada no relatório do GPIAAF e que é contratada pela companhia aérea de bandeira portuguesa, voando com as cores da TAP.
Falta de pilotos
A White Airways tem falta de pilotos para responder a todas as necessidades o que "inevitavelmente resultou num aumento da pressão operacional sobre as tripulações e a consequente extensão dos seus tempos de serviço".
Nenhum piloto se queixou de fadiga, mas o relatório consultado pela TSF diz que "não se podem excluir fatores de fadiga acumulada", ainda por cima porque no passado, em 2016, um outro acidente com o mesmo tipo de aeronave, num voo Porto-Lisboa, foi potenciado, diretamente, pela fadiga.
A empresa que trabalha para a TAP é acusada de "não demonstrar ter um método ou processo de seguimento de fadiga" dos pilotos.
O GPIAAF acrescenta que o operador "não preparou ou protegeu a operação do rápido crescimento com a introdução da frota ATR-72 a operar para a TAP Express", numa altura de "significativa escassez de pilotos".
"Com o aumento da pressão comercial, foram expostas vulnerabilidades da organização" da empresa, bem como "a falta de procedimentos documentados ou inadequados à dimensão da operação" feita em nome da TAP.
Falhas no treino e de segurança
Foram detetadas falhas e "atalhos" na formação e treino dos pilotos, com processos de "integração na operação de jovens pilotos que não se mostraram eficazes".
No voo que ao aterrar embateu com a cauda na pista do aeroporto de Fez a copiloto aos comandos do avião estava em formação e não teve uma formação "eficaz e suficiente", demonstrando-se "falhas no sistema de validação dos tripulantes".
Depois de embater com a cauda na pista em Marrocos o avião regressou a Lisboa e até aí o GPIAAF diz que a decisão foi errada e podia ter corrido mal falando em "confiança excessiva".
O acidente em Marrocos "tornou evidente um conjunto de fragilidades do operador e do seu sistema de gestão de segurança operacional", nomeadamente, também, no voo de regresso a Lisboa pois o avião estava numa "condição não aeronavegável", com a agravante da empresa não ter comunicado logo ao GPIAAF aquilo que aconteceu em Marrocos.
Regulador também falhou
O relatório acaba com cinco recomendações à White Airways, mas também à Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC).
O regulador dos aviões em Portugal é acusado de várias "debilidades" na supervisão da empresa que trabalha para a TAP.
Falhas que passam pela avaliação da formação, treino e gestão dos pilotos, bem como pela "supervisão da operação da frota ATR-72" e pelo controlo do risco destes aviões.
O GPIAAF conclui o documento dizendo que as falhas encontradas são "relevantes" e "sistémicas" na "gestão de segurança do operador e no processo de supervisão pela autoridade de certificação, a ANAC".