Investigação no Algarve. Como a medula óssea de animais permitiu ao homem pré-histórico sobreviver ao clima extremo
A investigação, de um conjunto de arqueólogos da Universidade do Algarve, foi publicada no Journal of Archaeological Science Reports
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Investigadores do Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano, da Universidade do Algarve, acreditam que o homem tem conseguido adaptar a sua alimentação de acordo com as alterações climáticas e, eventualmente, retomar práticas já abandonadas.
Claudia Costa, zoo-arquéologa, que estuda os ossos para perceber a História, começou a analisar ossos de animais que tinham sido encontrados nos anos 90 do século passado, no sítio da Branqueira, a dois quilómetros de Cascais.
”Percebi que havia uma série de ossos frescos partidos intencionalmente, perfeitamente compatíveis com aquilo que é descrito na literatura como ossos fragmentados para retirar a medula óssea”, explica à TSF.
Eram ovinos e caprinos, mas também suínos criados pelos próprios homens, no período final do Neolítico. Em conjunto com os arqueólogos da mesma universidade, Maria João Fernandes Martins e António Faustino Carvalho, tentou perceber que clima existia na altura capaz de obrigar as populações, que supostamente já viviam da agricultura e pastorícia, a adotar estas práticas para sobreviver.
Chegaram à conclusão que foi "uma altura de stress climático, caracterizado por invernos mais rigorosos e verões mais secos".
A surpresa do estudo foi verificar que os ossos que se encontravam fragmentados para retirar o tutano, uma prática que tinha sido abandonada muitos milénios antes, tinha sido retomada.
”Aquilo que pensávamos que era característica única e exclusiva dos caçadores-recoletores, verificamos que, milénios depois, as pessoas podem recuperar essa técnica. Em altura de stress nutricional, fazem-no”, acentua.
Este estudo, publicado na revista Journal of Archaeological Science Reports, “mostra que o consumo sistemático de medula óssea de mamíferos foi um recurso essencial para a subsistência humana durante um período de declínio agrícola e stress climático”, diz a universidade em comunicado.
A investigação poderá abrir possibilidades de estudo sobre estratégias de sobrevivência humana durante outros períodos da História.