Investigadores criam dispositivo que permite ao pescador perceber que peixe está impróprio para consumo
Sensor foi desenvolvido na Universidade do Minho e permite detetar toxinas e alergénios nos frutos do mar, incluindo a toxina TTX, que pode matar por envenenamento
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Uma equipa de investigadores da Escola de Ciências da Universidade do Minho (UMinho) desenvolveu um sensor que permite detetar toxinas e alergénios no peixe e marisco, durante a pesca, impedindo que esses produtos cheguem ao mercado e desencadeiem intoxicações alimentares e alergias.
Uma toxina letal oriunda do Japão é o principal alvo do dispositivo, que ainda não saiu de laboratório, mas está pronto para ser patenteado. Os cientistas acreditam no seu potencial de implementação pela indústria pesqueira, nomeadamente em Portugal, onde o consumo de frutos do mar pela população é elevado.
“Com as vantagens que tem e dada a sua importância para a sociedade, este sensor tem elevado potencial para sair do laboratório”, afirma o investigador José Pedro Rocha, do Centro de Química da UMinho, explicando que o objetivo principal do aparelho, semelhante a um medidor de glicose, é “evitar que este tipo de alimentos, frutos do mar, cheguem ao prato do consumidor contaminados”.
O sensor desenvolvido, em colaboração do Laboratório Associado para a Química Verde (LAQV REQUIMTE) e da Faculdade de Química da Universidade de Vigo (Espanha), funciona de “forma muito simples”. “Os pescadores devem ter consigo o dispositivo, que é algo muito semelhante àquilo que todos nós conhecemos para medir os níveis de glucose no nosso organismo, e no local da captura fazer um teste com o sensor e no caso do sinal ser positivo, da amostra, por exemplo, de mexilhão, estar contaminada, devem interromper a captura de modo a evitar que estes alimentos cheguem ao consumidor”, descreve.
Uma das toxinas que pode ser identificada pelo dispositivo é a tetrodotoxina (TTX), considerada “extremamente perigosa”, por ser “100 vezes mais tóxica que o cianeto” e poder originar morte por envenenamento.
“Este sensor foi desenvolvido especialmente para detetar uma toxina específica, a tetrodotoxina, que sempre existiu no Japão, mas foi recentemente encontrada na costa europeia, devido às alterações climáticas”, indica José Pedro Rocha, acrescentando que o equipamento “também pode ser adaptado para deteção de um alergénio específico, a parvalbumina, que é o principal alergénio do peixe”.
A medição ainda durante a atividade pesqueira permite uma “análise rápida”, sem necessidade do tradicional recurso a laboratórios, e evitar também o desperdício alimentar.
O investigador José Pedro Rocha destaca que “as vantagens” deste aparelho abrangem, além do consumidor, a indústria alimentar. “Todos têm a ganhar. Em relação ao consumidor a principal será a prevenção de intoxicações alimentares e para as indústrias, é o evitar perdas. Geralmente, a indústria pesqueira faz capturas em massa e, não parece nada vantajoso, fazer uma captura de mexilhão contaminado”, conclui.
