Investigadores de Coimbra testam app para diminuir episódios de ingestão alimentar compulsiva
O estudo revela que quem levou o programa digital da eBEfree até ao fim reduziu o número de episódios de ingestão alimentar compulsiva para níveis que não permite o diagnóstico. O futuro da aplicação está ainda em aberto.
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O programa da aplicação eBEfree tem por objetivo eliminar ou reduzir episódios de ingestão alimentar compulsiva. Ao longo de 12 semanas são dadas ferramentas e estratégias de regulação emocional, como, por exemplo, técnicas de mindfulness. E os resultados são positivos.
"O número de episódios de ingestão compulsiva e a pontuação obtida na escala que mede a ingestão compulsiva diminuiu para um nível que já nem sequer permite o diagnóstico", revela José Pinto-Gouveia, investigador responsável do projeto.
O estudo foi desenvolvido por uma equipa do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.
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Os resultados do uso da aplicação indicam ainda uma perda de peso e alterações na forma como os participantes se aceitam. Segundo Pinto-Gouveia, as pessoas com obesidade e ingestão compulsiva alimentar "não só sentem algum estigma mas também são muito autocríticas". "Habitualmente criticam-se porque é lhes dada sempre a ideia que não se controlam o suficiente. E de facto a app conseguiu que as pessoas passassem a aceitar melhor, a ter menos autocrítica", relata.
De dois mil interessados em participar no estudo, foram selecionadas 100 pessoas. A taxa de desistência fixou-se, no entanto, em 70%. Ainda assim, são números que, diz o investigador, estão em linha com resultados de outros estudos semelhantes.
Para diminuir os abandonos, Pinto-Gouveia entende que o caminho poderia passar pela promoção de contactos regulares com as pessoas por forma a "incentivá-las" ou incluir mais aspetos motivacionais na aplicação. Pinto-Gouveia diz que a aplicação poderia ainda ser dada às pessoas como complemento, "por exemplo, nas consultas de nutrição, em consultas para a obesidade ou de endocrinologia, que, habitualmente, no Serviço Nacional de Saúde, têm tempos de espera grandes e intervalos grandes entre consultas".
"É uma coisa que não tira tempo aos técnicos, que as pessoas podem fazer e que o técnico vai acompanhando".
Na base da aplicação eBEfree está um programa de intervenção psicológica que foi desenvolvido de forma presencial para reduzir episódios de ingestão alimentar compulsiva. Os resultados, continua Pinto-Gouveia, levaram o grupo a considerar que "valia a pena dar a possibilidade a mais pessoas de fazerem o programa e terem benefícios".
Sobre o futuro da aplicação eBEfree, Pinto-Gouveia diz que para já está tudo em aberto.