Investigadores lançam guia de bolso para dar a conhecer os peixes dos rios portugueses
Pela primeira vez, o trabalho de investigação científica feito nos últimos 50 anos está coligido num único documento com fichas científicas sobre as espécies de água doce existentes no território continental.
Corpo do artigo
A ideia era antiga e só agora saiu para o papel. Foi publicado este mês o "Guia de Peixes de Água Doce e Migradores de Portugal Continental", uma obra coordenada por Maria João Collares-Pereira, bióloga e professora catedrática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Em entrevista à TSF, a investigadora explica que este guia surgiu pela necessidade de agrupar a informação científica que estava dispersa em vários trabalhos feitos ao longo das últimas décadas. "Julgo que vai ser uma obra de referência porque reúne tudo o que é conhecido até esta data", revela autora. O livro tem dois capítulos sobre a tipologia das águas doces nacionais e um terceiro com fichas individuais de cada uma das 62 espécies nativas residentes, migradoras e visitantes marinhas. As ilustrações científicas foram feitas "com grande pormenor e rigor científico" por Cláudia Baeta e Pedro Salgado.
TSF\audio\2021\03\noticias\23\23_mar_rui_silva_janela_rios_
A equipa de 12 pessoas que participou na elaboração deste guia acredita que ele pode ser útil para alunos e professores de vários graus de ensino, para amantes da natureza e sobretudo para os cerca de 200 mil pescadores lúdicos que se calcula existirem em Portugal. De acordo com a coordenadora, os pescadores estão cada vez mais conscientes e sensibilizados para a riqueza das águas doces, mas "precisam de ter esse conhecimento" sobre as espécies que é importante preservar.
Entre as espécies mais ameaçadas, Maria João Collares-Pereira destaca o saramugo que "só existe em algumas zonas da bacia do Guadiana e está criticamente em risco de extinção", vários escalos "que estão muito ameaçados", a boga de Lisboa "cuja presença em afluentes do Tejo inferior é vestigial" e o ruivaco do Oeste.
Além das espécies exóticas que são introduzidas a uma média de "duas novas espécies por ano" e que frequentemente "comem as espécies nativas", uma das maiores ameaças aos peixes portugueses de água doce é a ação humana. A investigadora alerta para a importância de melhorar a "boa legislação" que Portugal tem, nomeadamente sobre as épocas e a forma em que é permitido pescar e aponta também o exemplo da extração de água para agricultura ou de inertes "quando o leito fluvial tem as posturas dos peixes". Nessas alturas, argumenta a cientista, "não devia ser permitido fazer extrações de materiais inertes" dos leitos dos rios.