Historiadora não vai recorrer do chumbo, mas faz questão de expor falhas do júri que considera chocantes.
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Irene Pimentel acusa o júri que recusou a sua candidatura às bolsas da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) de não ter lido a proposta na íntegra ou "pura e simplesmente ter pré-decidido que esta seria recusada, recorrendo a critérios novos."
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A Prémio Pessoa em 2007 recorda à TSF que supostamente o painel de avaliadores não tem acesso aos nomes dos candidatos, mas é evidente que, para determinadas pessoas com uma carreira estabelecida na área, o júri facilmente sabe quem é o candidato, bastando ver os nomes dos livros que escreveu no passado.
O texto que sustenta o chumbo da bolsa, entretanto consultado por Irene Pimentel, diz, aliás, que a sua aprovação seria o "natural corolário da carreira de sucesso da investigadora como especialista líder na sua área de investigação histórica", dando a entender, sublinha a investigadora, que conheciam a identidade do candidato.
"Era corolário e depois recusam?!"
Depois do elogio à sua carreira, detalha a historiadora, a candidatura é chumbada por razões que a própria considera "chocantes". "Era corolário e depois recusam?!", questiona.
Irene Pimentel decidiu não recorrer da decisão por considerar que seria quase impossível uma decisão diferente da primeira, como é habitual nestes concursos, mas fez uma espécie de carta pública em que detalha as razões que motivaram o chumbo para, como explica à TSF, mostrar aos futuros candidatos o que devem fazer para não serem apanhados por critérios nunca escritos nas regras da FCT, além dos erros cometidos neste concurso.
Revelando detalhes da sua candidatura, a historiadora mostra como o júri apontou falhas que na verdade não existiam. Por exemplo, os avaliadores dizem que não foram apresentados os países onde seria feita a investigação, mas na proposta é evidente, "até no título", que os países em causa seriam Portugal, Estados Unidos, França, Bélgica, entre outros países europeus, além de países africanos de língua portuguesa.
Uma questão de idade?
Irene Pimentel é ainda acusada de não ter apresentado uma cronologia da investigação, mas a própria mostra que apresentou claramente um plano dividido em quatro partes.
Finalmente, a historiadora explica que apresentou duas páginas de referências bibliográficas, mas o júri diz que faltam referências, algo que a leva a prometer chegar a "uma lista infindável de 50 páginas numa próxima candidatura".
Irene Pimentel suspeita, mas admite que não tem a certeza, que a sua candidatura foi chumbada por uma questão de idade (tem 68 anos), apesar de esse critério não estar escrito em qualquer regra, até porque um investigador sénior ganha mais que um júnior.
Reconhecida historiadora, Irene Pimentel foi um dos 3.600 investigadores que viram os seus projetos recusados no Concurso Estímulo ao Emprego Científico da FCT.
Outro Prémio Pessoa, Maria Manuel Mota, cientista conhecida pelo trabalho na área da malária, foi outro dos nomes sonantes chumbados.