"Irresponsabilidade e incompetência." Ex-vereador de Lisboa diz que câmara atingiu "limite dos limites" no caso do Elevador da Glória
Na TSF, Fernando Nunes da Silva diz que o acidente no Elevador da Glória é só um exemplo de "uma série de situações que estão a acontecer" e a "revelar um nível de degradação técnica"
Corpo do artigo
O ex-vereador da mobilidade da Câmara de Lisboa Fernando Nunes da Silva diz-se "impressionado" com os níveis de "irresponsabilidade" e "incompetência" que ficaram provados no relatório preliminar ao acidente com o Elevador da Glória. O também especialista em mobilidade critica a autarquia de Lisboa e o Governo por tentar sacudir a água do capote.
"O facto de haver um pequeno motor auxiliar para o arranque do sistema serviu de desculpa para Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres (IMT) dizer que não tinha nada a ver com o assunto, porque aquilo era um elétrico. Mas toda a gente já percebeu que o sistema dependia essencialmente do cabo e, portanto, para todos os efeitos, aquilo era um transporte sobre cabo. O IMT tinha responsabilidades de fiscalização do assunto", afirmou Fernando Nunes da Silva, em declarações à TSF.
"E a Câmara de Lisboa também achou muito bem não ter ninguém a fiscalizar aquilo que fazia e, portanto, aceitou esta posição do IMT. Eu acho isto tudo absolutamente impressionante. O nível de irresponsabilidade, de incompetência, de falta de bom senso... Atingimos o limite dos limites", prosseguiu.
Para Fernando Nunes da Silva, isto é só um exemplo de "uma série de situações que estão a acontecer" e a "revelar um nível de degradação técnica" dos serviços. Ainda assim, ressalvou, o problema não está na falta de técnicos, mas sim na falta de estruturas que "saibam enquadrar e que têm sido substituídas por paraquedistas das juventudes partidárias que tomam conta das direções".
No outro dia, houve um comboio da CP em que uma carruagem se desligou. Isto é uma coisa absolutamente espantosa, imagine ter acontecido numa rampa. Seria uma catástrofe.
Fernando Nunes da Silva criticou também a Carris por ter entregue a manutenção do Elevador da Glória a uma empresa externa, mas descartou a demissão de Carlos Moedas, embora reconheça que existem responsabilidades políticas nas falhas que conduziram ao acidente.
Em causa está o relatório preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), relativo ao acidente ocorrido a 3 de setembro, que causou 16 mortos e cerca de duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.
Segundo o documento, os ascensores da Glória e do Lavra, em Lisboa, assim como os elétricos da Carris, estão fora da supervisão do IMT, ficando apenas sob fiscalização da própria empresa gestora.
O GPIAAF constatou ainda que "os carros elétricos da Carris estão na mesma situação, por não existir um enquadramento legal para a regulação técnica e de segurança dos sistemas de elétricos que circulam em via não reservada".
O relatório revela também que o cabo que unia as duas cabinas do Elevador da Glória, e que se partiu no ponto de fixação da carruagem que descarrilou, não cumpria as especificações da Carris nem estava certificado para o transporte de pessoas.
