As duas bicicletas que os alunos da escola secundária da freguesia construíram para oferecer ao Papa Francisco estão prontas. Seguem viagem esta manhã para o concelho de Loures, onde está localizada parte de um dos recintos principais da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
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É altura de férias escolares. As bicicletas que estão à vista na entrada da Escola Secundária da Gafanha da Nazaré não são muitas. Mas durante as aulas não é bem assim. Espaço para estacionamento não falta. "Temos 600 lugares. Durante o ano letivo costumamos ter entre 350 a 400 bicicletas estacionadas. Cerca de 40% dos alunos costumam vir de bicicleta para as aulas", explica António Rodrigues.
O professor de Físico-Química é o responsável pela oficina de bicicletas da escola. Tudo acontece numa sala pequena com muitas ferramentas espalhadas pelas mesas. A oficina de trabalho está à vista de todos, num dos muitos espaços da sala de convívio da escola. É por aqui que, em tempo de aulas, acontece a magia do "Gafe Bike Lab".
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"Temos uma equipa de cerca de cinco alunos que está aqui permanentemente a ajudar os colegas a reparar bicicletas", refere o professor. Assim é há sete anos. Numa freguesia onde o estranho é não haver quem escolha a bicicleta para fazer curtas distâncias, percebe-se que o desafio maior não podia ter ido parar a outro sítio.
Nos últimos meses, fez-se mais do que reparar bicicletas. Nasceram de raiz duas bicicletas pasteleiras, tipicamente da região. E para um destinatário em especial: o Papa Francisco. O desafio foi lançado à freguesia da Gafanha da Nazaré pela União de Freguesias de Santa Iria da Azóia, São João da Talha e Bobadela, em Loures, onde está localizada parte de um dos recintos principais da JMJ. A ideia surgiu quando os responsáveis dos dois órgãos autárquicos estiveram reunidos num encontro sobre sustentabilidade ambiental. As bicicletas foram construídas pelos alunos durante seis meses, tendo como base a sucata que foi sendo recolhida junto da comunidade.
O "azul do mar"
Enquanto acrescenta mais pormenores sobre o desafio que ocupou os jovens nos últimos tempos, os olhos de António Rodrigues não deixam de ter na mira o pátio da escola. Lá fora estão as bicicletas de que tanto se fala. Uma é masculina, a outra feminina. A diferença está no quadro da bicicleta. "As mulheres usavam saia e então não se podiam sentar numa bicicleta com um quadro qualquer. Tinha que ser um quadro "mais aberto", desvenda o docente.
A cor - um azul bem vivo - também não foi escolhida ao acaso. "Representa o mar. A nossa ideia inicial era pintá-las de branco, mas parece que na América Latina o branco está associado ao luto. E não quisemos passar essa mensagem ao Papa."
Os pormenores foram talhados ao detalhe. Não falta uma pequena bolsa de ferramentas na parte posterior da bicicleta para ter à mão um ou outro acessório fundamental. No guiador, está ainda à vista um bacalhau em miniatura onde está assinalada a terra onde as bicicletas ganharam vida. Nem a campainha foi esquecida.
O trabalho de construção de bicicletas está nas mãos de um projeto que tem um propósito que é também solidário. Durante este ano, o "Gafe Bike Lab" ofereceu 38 bicicletas a alunos mais desfavorecidos. É um trabalho dos alunos para os alunos. Samuel Bola, aluno do 9.º ano, não esconde a estranheza que sentiu quando o desafio foi revelado. "Estranhei porque é difícil arranjar peças para bicicletas antigas", conta.
Mas a missão foi cumprida com sucesso, e as bicicletas estão mais do que prontas. "Gostava que o Papa desse uma voltinha, mas temos receio que ele caia", confessa o jovem.
A dúvida
As bicicletas seguem viagem esta manhã para a União de Freguesias de Santa Iria de Azóia, São João da Talha e Bobadela. "O Vaticano seria, de facto, a cereja no topo do bolo. Não sendo possível, vamos entregá-las para que possam estar em exposição até ao arranque da JMJ", revela o presidente da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, Carlos Rocha.
Esse é ponto assente. O problema está numa outra questão. A bicicleta masculina já tem dono. A equipa da oficina não esconde o desejo de a entregar em mãos ao Papa Francisco, embora estejam conscientes de que "isso não depende de nós". Mas no caso da bicicleta feminina a conversa é outra. Já há dona à vista? "Não faço a mínima ideia", admite António Rodrigues. "Meteu alguma confusão aos alunos o facto de estarmos a fazer uma bicicleta para o Papa, que não anda de bicicleta. Mas explicámos o simbolismo, que é para nós o mais importante. Esta é uma bicicleta que representa uma região."
Professor, presidente e aluno ainda não sabem se as bicicletas vão chegar ao Papa. O presente foi feito à medida. Até os nomes dos elementos que a compõem confirmam a tese. "Estas bicicletas têm um volante com curvas nas pontas, não é horizontal. Chama-se guiador à padre", acrescenta, incrédulo, António Rodrigues. As bicicletas vão ser entregues à pessoa certa.