O representante dos administradores hospitalares recorda que a última semana foi a pior em termos de números de casos, com o maior número de mortes e o maior número de internados.
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Há hospitais em pré-rutura e a situação pode agravar-se na próxima semana. Quem o diz é Eduardo Castela, da direção da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, ao Fórum TSF.
Em entrevista ao jornalista Manuel Acácio, o representante dos administradores hospitalares recorda que a última semana foi a pior em termos de números de casos, com o maior número de mortes e o maior número de internados.
"Teve também a lotação dos hospitais na ordem dos 80% e houve um aumento das transferências intra-hospitalares e também com 413 doentes em camas de UCI", acrescenta.
Eduardo Castela prevê um cenário ainda pior na próxima semana: "Poderemos ter, num pior cenário, 605 pessoas internadas em cuidados intensivos e perto de 4500 internamentos. Face a este cenário, nós achamos que o eventual cancelamento da atividade programada, pela via da realocação de recursos para as áreas Covid, poderá estar em causa. Posto isto, estarão os hospitais em rutura ou em pré-rutura".
Eduardo Castela admite que ainda há capacidade de alargar a capacidade de resposta em cuidados intensivos, mas isso exige a contratação de mais pessoal.
"Sabemos que, pelos dados que nos são fornecidos, poderemos ir até ao limite de 900 camas de cuidados intensivos e sabemos que há unidades que estão a ser preparadas. Poderemos ir um pouco mais além, mas o ir mais além acaba sempre por prejudicar o tratamento de doentes não Covid durante esta fase. Nós achamos que assegurar as respostas para um reforço da contratação no setor social e também de retaguarda poderá ajudar a diminuir a pressão dos hospitais", defende.
Para evitar a rutura nos hospitais, o bastonário dos médicos Miguel Guimarães faz um apelo aos médicos que se reformaram ou que estão no privado para temporariamente regressarem ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e defende a contratação de mais profissionais do privado para o público.
"Era possível tentar, pelo menos, contratar mais pessoas, seja médicos ou profissionais que estão fora do SNS. Cerca de 15 mil médicos trabalham fora do SNS exclusivamente, ou seja, não trabalham no SNS. Aliás, eu agora lancei um desafio aos médicos para voltarem ao SNS transitoriamente, para tentarem ajudar também. Era possível ter reforçado mais as equipas de saúde pública, com pessoas da área da saúde. Não faz sentido nenhum, por exemplo, esta situação que o primeiro-ministro veio dizer de ir socorrer-se dos professores e de militares em área da formação da saúde, porque a questão dos inquéritos epidemiológicos é uma questão séria de saúde pública", sustenta.
Miguel Guimarães defende ainda que os hospitais têm de funcionar em rede para que nenhum deles entre em rutura.
Também ouvido no Fórum TSF, Francisco George, ex-diretor-geral da saúde e atual presidente da Cruz Vermelha, sublinha que estamos perante um fenómeno ímpar, nunca antes visto: "Estamos perante uma crise global, em todo o planeta. (...) Nunca terá acontecido na História da Humanidade, mesmo tendo em conta o problema da pandemia de gripe de 1918, com esta gravidade."
Francisco George assegura que os reforços estão a chegar, mas até lá é preciso ter coragem, resistir ao cansaço e cumprir escrupulosamente as regras sanitárias.
"Esperar por reforços e, neste caso concreto, os reforços são as vacinas. As vacinas estão praticamente a poucas semanas de serem colocadas ao nosso alcance. Até lá, temos de reforçar as medidas de prevenção, temos de encontrar coragem e energia para conseguirmos esperar. Esperar por reforços, pela vacina", remata.
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