Há municípios no país a produzir mais lixo do que há dez anos.
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Os anos da crise em Portugal ficaram marcados pela diminuição da produção de lixo, mas com o recente aumento do poder de compra e o crescimento do turismo, os portugueses estão a encher cada vez mais sacos do lixo.
Os dados das quatro empresas que gerem o lixo dos principais concelhos das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto mostram que, depois de a produção de resíduos ter diminuído, entre 2009 e 2012 - um reflexo da diminuição do consumo, durante os tempos de crise - tem existido uma forte tendência de aumento, nos últimos anos.
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De acordo com os dados divulgados pelo Jornal de Notícias , a TratoLixo, que trata os resíduos dos municípios de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra, recebeu em 2018, em média, mais 10,5% de lixo do que recebia em 2012. Já a Valorsul, responsável pelo lixo dos concelhos de Amadora, Lisboa, Loures, Odivelas e Vila Franca de Xira, recebeu mais 13,2% de resíduos em 2018, em comparação com 2012.
No Grande Porto, Valongo foi o concelho que registou um maior aumento da produção de lixo em 2018. A autarquia explica os números com o aumento do poder de compra, com a mudança das rotas de recolha de lixo
e o aumento dos contentores e ecopontos na via pública.
Mas da produção de lixo à reciclagem é um longo caminho. Segundo o Jornal de Notícias, que centra a análise no Norte do país, nem um terço dos resíduos urbanos produzidos em dez concelhos da área metropolitana do Porto chegam à reciclagem.
Na empresa Lipor, que faz a gestão dos resíduos na área do Grande Porto, a taxa de recicláveis é de apenas 20,9%. Já na Suldouro, que faz a reciclagem nos concelhos de Vila Nova de Gaia e de Santa Maria da Feira, não passa dos 7,95%.
Vila Nova de Gaia é o concelho mais populoso da área metropolitana e aquele que menos recicla. De todo o lixo produzido no ano passado em Gaia, apenas 6,8% seguiu para reciclagem.
"O Governo tem de criar regras mais rígidas"
Rui Berkemeier da associação ambientalista ZERO acredita que o Governo deve tomar medidas mais rígidas para combater o desperdício e o uso desenfreado dos recursos e sublinha que, nos últimos anos, "a única medida que teve algum resultado foi aquela legislação que impedia a oferta de sacos nas caixas dos supermercados, mas não chegou para compensar o aumento do poder de compra dos portugueses e o aumento do turismo que também gera bastantes resíduos".
No mesmo plano, o ambientalista lembra que os sacos de plástico mais finos ainda não são taxados.
"Continuam a ser oferecidos nas superfícies comerciais aqueles sacos fininhos. Hoje em dia devia ser possível e incentivado o consumidor levar o seu próprio saco, por exemplo, quando vai comprar fruta."
Na visão de Rui Berkemeier, é necessário combater o desperdício alimentar com regras mais apertadas: "É uma questão importante e do ponto de vista moral e ético bastante relevante. Tem de se apertar mais essa malha, tem de haver regras mais rígidas. No entanto, Portugal tem feito um esforço grande. Comparando com o que acontecia há alguns anos, associações como a Refood têm feito um trabalho muito interessante."
"O Governo tem de criar regras mais rígidas, taxar mais o desperdício em termos de resíduos", remata.